Estende a mão! (Lc 6,6-11)
A mão é inseparável da ação. Muitas vezes, a Bíblia pede que Deus erga
seu braço, levante sua mão, isto é, entre em ação. Braços cruzados, mãos
encolhidas, ao contrário, conotam a inatividade, a inércia de quem não se
compromete e não quer tomar parte na ação. No episódio deste Evangelho. Antes
de curar o “homem de mão seca”, um deficiente físico, Jesus o convida a participar
de sua própria cura: a mão estendida é o gesto de quem participa da ação. No
mínimo, concorda com ela.
Comentando esta passagem, Santo Ambrósio de Milão fala da importância de
sair da inércia, do pequeno mundo de nossos interesses, e estender a mão ao
próximo: “Estende-a muitas vezes, a favorecer ao teu próximo; defende de toda
injúria aquele que vês sofrer sob o peso da calúnia, estende também tua mão ao
pobre que te pede; estende-a também ao Senhor, pedindo-lhe o perdão dos teus
pecados: é assim que tu deves estender a mão, é assim que se cura”.
A religião cristã é uma religião radicalmente “social”: o encontro com
Jesus Cristo conduz necessariamente a um estilo de vida centrífugo, quando
saímos de nós mesmos na direção do outro. Depois de conviver com Cristo, o
discípulo é enviado às aldeias e cidades, praças e encruzilhadas, para anunciar
que o Reino está próximo. Sua missão não se extingue na pregação: “Curai os
doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios.
Recebestes de graça, de graça dai!” (Mt 10,8.)
Logo na abertura da Gaudium et Spes, a Constituição dogmática
sobre a Igreja no mundo de hoje, o Concílio Vaticano II ensinava: “As alegrias
e as esperanças, as tristezas e as angústias do homem de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade
humana que não encontre eco no seu coração”. (GS, 1.)
É, pois, uma distorção grave imaginar que a mensagem cristã seja algo
desencarnado, uma simples trilha para o céu, que nada tem a ver com as
realidades terrestres. Ao contrário, nosso “céu” é tecido com o barro nosso de
cada dia. Se assim não fosse, o próprio Filho de Deus não teria assumido a
nossa carne, trabalhando com as próprias mãos, convivendo asperamente com nossa
humana realidade.
Quando chegou sua hora, também ele estendeu suas mãos. Deixou-se prender.
Deixou-se crucificar. E nós? Estenderemos nossa mão?
Orai sem cessar: “Vós me tomastes
pela mão...” (Sl 73,23)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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