Seu coração está longe! (Mc 7,1-8.14-15.21-23)
Neste Evangelho, Jesus estabelece
um nítido contraste entre o lado de fora (os lábios) e o lado de dentro (o
coração). Aquilo que se manifesta exteriormente (as palavras) e aquilo que se
oculta no íntimo do ser (os sentimentos e intenções). O que aflora em nós e o
que permanece em segredo.
Ora, o grande mandamento não
falava de amar a Deus com palavras, com os lábios, mas trazia um imperativo
exigente: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma,
e de todas as tuas forças!” (Dt 6,4) É nossa pessoa integral que se consagra a
um amor tão exigente!
Jesus reage às acusações dos
fariseus, que apontam no comportamento dos discípulos algumas quebras rituais
de preceitos relativos à higiene ou “pureza” alimentar. A correção do Mestre
aponta para uma hierarquia de valores: conta mais a alma, os impulsos do
coração, do que o cumprimento de rituais exteriores. Em sua pretensão de
legalidade, os fariseus acabarão – como diz Jesus – coando as moscas e
engolindo os camelos...
Não quer
dizer com isto que os sinais externos não tenham nenhum valor, mas que seu
valor deriva da coerência entre o lado de fora (gestos e palavras) e o lado de
dentro (amor e obediência à Palavra de Deus). Tão ciosos de cumprir os
preceitos mosaicos, os fariseus não acolheram o Messias que Moisés anunciara...
Este enquadramento da vida
espiritual ajuda a entender que muitos santos, em seu dia-a-dia, fossem pessoas
que manifestavam defeitos bem comuns, como impaciências, temperamentos ásperos,
fragilidades de todo tipo. No entanto, sua santidade não se baseava em
aparências: lá dentro - “no coração”, para usar uma expressão bíblica – lutavam
permanentemente contra esses impulsos do homem natural e faziam grandes
esforços para corresponder à graça de Deus, pondo-se a serviço do Reino de
Deus, servindo a Jesus na pessoa do próximo. Nestes santos, a consciência de
serem pecadores estava sempre acima de qualquer aparência de perfeição...
Enfim, Deus lê o nosso coração.
Jesus “sabe o que há no homem” (cf. Jo 2,25). Seria insanidade de nossa parte
simular uma santidade que não vivemos, tentando aparentar um grau de perfeição
que não resiste a qualquer análise, mas se faz apenas de aparências e máscaras.
Entre o santo e o beato, há uma enorme distância...
Orai sem cessar: “Senhor, conheceis
até o fundo a minha alma!” (Sl 139,14)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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