Herodes estava perplexo... (Lc 9,7-9)
Quando o poder de Deus se manifesta à luz do dia, as pessoas reagem
diferentemente. Diante da notícia de algum milagre, o povo simples se alegra e
dá glória a Deus. Os doutores racionalistas torcem o sábio nariz e prontamente
sacam da algibeira alguma interpretação baseada nos princípios da lógica
cartesiana. Os profundos psicanalistas recorrem ao inconsciente coletivo para
“explicar” o fenômeno.
Herodes, o rei, não sabia o que pensar diante dos relatos de curas e
sinais excepcionais realizados por Jesus de Nazaré. Vivendo vida escandalosa
aos olhos do povo, denunciado publicamente pelo Profeta, Herodes mandara
decapitar João Batista na fortaleza de Maqueronte, junto ao Mar Morto. Por mais
petrificada que fosse sua consciência, o tetrarca não se libertava do peso
dessa culpa. Ouvindo os rumores das curas e milagres, Herodes chega a temer que
João Batista tivesse ressuscitado...
Mas Herodes não é o único a ficar perplexo. Nem o único a duvidar. O
próprio Jesus andava se queixando da incredulidade de seu povo: “Se em Tiro e
Sidônia (terra de estrangeiros!) se tivessem feito os milagres que se
fizeram entre vós, há muito tempo teriam feito penitência em cilício e cinza”.
E refletia com uma dose de amargura: “Um profeta só é desprezado em sua pátria,
entre os seus parentes e em sua casa”. (Mc 6,4.)
Também entre os discípulos houve hesitações e dúvidas. Não apenas Tomé,
que só cria no que via. Na madrugada da ressurreição, quando Madalena trouxe a
nova de que o túmulo estava vazio, eles depreciaram o testemunho da mulher.
Mesmo na ascensão de Jesus Cristo, quando os discípulos o viram ressuscitado,
“alguns ainda hesitavam” (cf. Mt 28,17).
Em nossos dias, Deus continua manifestando “sinais” diante de nossos
olhos. Deixando de lado coisas extraordinárias, como imagens que choram, o sol
que gira, padres com dons de cura ou locuções interiores, o grande sinal de
nosso tempo são santos e mártires. Gente que vive para os pobres, como Teresa
de Calcutá, e estende pontes entre as Igrejas, como o Ir. Roger Schutz, de
Taizé. Gente que percorre o planeta para evangelizar, como o Papa João Paulo
II. Gente que dá a vida para que o outro não morra, como Gianna Beretta Molla e
Maximiliano Kolbe. Gente que ama os párias, como Dom Bosco e o Cottolengo. E
uma incontável multidão de mártires que, em pleno Séc. XX, foram alvo do ódio
contra Deus e a Igreja de Jesus Cristo.
Jesus Cristo nos deixa perplexos?
Orai sem cessar: “Senhor, vem em
socorro à minha falta de fé!” (Mc 9,24)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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