O Filho do Homem tem de sofrer muito... (Lc
9,18-22)
Ao menos por três vezes, de forma antecipada, Jesus anunciou aos
discípulos que sabia muito bem o que estava à sua espera. Esse “destino”
incluía sofrimento, rejeição, morte e ressurreição. Obviamente, os discípulos
não compreenderam a extensão desse anúncio. No caso de Pedro, chegaria a se
opor a tal desfecho para a missão do Senhor, dele merecendo uma áspera
reprimenda.
Nossa carne adâmica tem repulsa pelo sofrimento. Prefere o prazer e as
facilidades. A simples ideia de uma vida sóbria, simples, ascética, já nos
deixa um tanto assustados. Não admira que faltem vocações consagradas em uma
sociedade hedonista!
A escolha da cruz infamante como instrumento de nossa salvação será
escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (cf. 1Cor 1,23). Além do
mais, os judeus contemporâneos de Jesus andavam à espera de um Messias
triunfante. Foi indizível a sua decepção com o Servo sofredor, suspenso no
madeiro, como alguém que se fazia maldição. (Gl 3,13.)
A poesia pode ajudar a contemplação. Por isso, ofereço-lhe meu soneto
“Diante da Cruz”:
Ó vivas
fontes a jorrar das Chagas
Para
inundar de vida o Universo,
Vinde
afogar-me em vós, bem fundo, imerso
No abismo
sacrossanto dessas vagas!
Ó vivo
Sangue a escorrer em bagas
Para lavar
o pecador perverso,
Se andei
distante, em meu errar disperso,
As marcas
do meu crime logo apagas!
Ah! Quem
me dera fossem muitas vidas
Para curar
a dor dessas feridas,
Com beijos
apagar a cicatriz...
E o Amor
eterno diz, neste momento:
- Já não
me faz sofrer o sofrimento.
Quem ama
sofre e pode ser feliz!
Orai sem cessar: “Fomos curados
graças às suas chagas...” (Is 53,5)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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