É obra do Espírito Santo... (Mt
1,1-16.18-23)
A Liturgia escolheu este Evangelho para a festa da Natividade de Nossa
Senhora. Nele, temos o registro histórico da genealogia de Jesus Cristo, desde
Abraão até José, esposo de Maria, seguida da cena da “Anunciação a José”. E é
neste mesmo episódio que o Anjo do Senhor esclarece o justo José sobre a
natureza da gravidez de Maria: “É obra do Espírito Santo”.
Ora, a obra do Espírito Santo não começa por aí. Desde o início, quando
ainda “pairava sobre as águas” (Gn 1,2),
Deus já agia simultaneamente em dois campos: a Criação e a Salvação. E o
Espírito Santo sempre trabalhou em ambas as “obras”. É neste sentido que nós
devemos prestar atenção à fastidiosa relação de nomes, desde Abraão até José:
enquanto passa o tempo, ao longo da história humana, Deus se “prepara” para
agir. As promessas feitas a Abraão, renovadas a Davi, hão de cumprir-se em
José, da tribo de Davi, do povo de Abraão, da raça de Noé. Afunilando-se,
“especializando-se”, Deus se vale de mediações humanas para cumprir a promessa
de Aliança com os homens.
Mas Deus havia decidido que o próprio homem devia colaborar e participar
em sua obra. Nas conhecidas palavras de Santo Agostinho, “o Deus que te criou
sem ti, não te salvará sem ti”. Por isso mesmo, os Padres da Igreja “dataram” a
missão de Maria – a missão de gerar o Filho de Deus na carne dos homens – desde
toda a eternidade. Isto é, nos desígnios de Deus, Maria estava eternamente em
seu pensamento. Como disse o poeta, falando em nome de Maria, “a Criação estava
por nascer / e o Senhor se agradou de mim...”
A festa da Natividade da Bem-aventurada Virgem Maria é, pois, um momento
bem adequado para recordarmos o seu especial privilégio: desde a sua concepção
imaculada, tendo em conta a sua futura missão de acolher no próprio ventre o
Filho de Deus, o Cordeiro sem mancha, Maria de Nazaré foi preservada de todo
pecado. “Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais
sublime.” (LG, 53.)
Conforme comenta o Catecismo da Igreja Católica, “Os Padres da tradição
oriental chamam a Mãe de Deus ‘a toda santa’ (Panhaghia), celebram-na
como ‘imune de toda mancha de pecado, como que plasmada pelo Espírito Santo, e
formada como nova criatura’. Assim, foi pela graça de Deus que Maria permaneceu
pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida.” (C.I.C., 493.)
À imitação de Maria, abramos todo o nosso ser à ação do Espírito de Deus.
Orai sem cessar: “És toda bela, ó
minha amiga, / e não há mancha em ti!” (Ct 4,7)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:
Postar um comentário