Nós que deixamos tudo... (Mc 10,17-30)
Este Evangelho nos convida a um
olhar para dois aspectos. De um lado, o homem que não se dispõe a abrir mão de
sua fortuna. Do outro, os discípulos que tudo deixaram para seguir a Jesus. As
duas situações são bem homogêneas. O teólogo Urs von Balthasar comenta:
“Entre os dois episódios,
encontram-se as palavras de Jesus sobre a dificuldades para os ricos entrarem
no Reino de Deus. Para Jesus, quem é esse ‘rico’? Aquele que está apegado à sua
fortuna, não importa o tamanho que ela tenha.
É bem possível que existam ricos que
não se apegam a seus bens. Jesus deve ter conhecido alguns, e provavelmente as
mulheres que o assistiam com seus bens (cf. Lc 8,3) eram gente de posses. E
também pode existir aquele pobre que não está disposto a renunciar ao pouco que
possui.
A propósito desse homem que não quer
renunciar à sua fortuna, Jesus fala inicialmente da dificuldade, com a imagem
de um buraco de agulha, da impossibilidade prática de entrar no Reino de Deus
para quem não está disposto à renuncia, para finalmente, diante do espanto de
seus discípulos, abandonar tudo ao poder soberano de Deus.
Pedro afirma, então, que ele e os
outros deixaram tudo para seguir Jesus. Este protesto é radicalizado por Jesus
sob múltiplos pontos de vista: primeiro, pela enumeração de todas as pessoas e
de todos os bens que é preciso abandonar; em seguida, pela cláusula sublinhada
– ‘por causa de mim e por causa da Boa Nova’ -, isto é, de modo algum por
desprezo pelos bens terrestres, mas fazendo-os passar por uma motivação bem
definida; enfim, pela cláusula anexa: ‘com perseguições’.
Aquele que se despoja de seus bens
não atinge um porto seguro, o ‘cêntuplo’ que ele receberá só é prometido em
definitivo para a vida futura. O seguimento de Jesus, de que Pedro falou, só é
verdadeiro desta maneira: neste mundo, a cruz; no além, a ressurreição.”
Em suma, ao abrir mão de bens e
valores materiais, o discípulo não é movido por um ideal estoico, nem pretende
mostrar-se superior àqueles que idolatram a matéria. Foi o encontro apaixonante
com Jesus que lhes deu a suprema liberdade, ignorada pelos pagãos, sem a qual a
missão do evangelizador seria impossível.
Orai sem cessar: “O Senhor te dará o que teu
coração pede.” (Sl 37,4)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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