Fogo sobre a Terra... (Lc
12,49-53)
O simbolismo do fogo sempre
acompanhou as manifestações divinas. Foi a sarça em fogo que atraiu Moisés para
o encontro com o Senhor Yahweh (cf.
Ex 3). A experiência de Deus acende braseiros no coração do adorador, como
anotou o salmista: “Meu coração queimava dentro de mim, / ao meditar nisto o fogo
se inflamava”. (Sl 39,4) Mais recentemente, São Serafim de Sarov saía de seu
tempo de oração despedindo chispas de fogo.
Na manhã de Pentecostes, quando se
cumpriu a promessa do Pai, com a vinda do Espírito Santo sobre o primeiro grupo
da Igreja (cf. At 2), o ruído do Vento divino se fez acompanhar de línguas de
fogo, “que se repartiram pousaram sobre cada um deles”.
De que fogo falava Jesus, quando
anunciava um incêndio a ser ateado no planeta? Eis a resposta de Urs von
Balthasar:
“O fogo que, no Evangelho, Jesus
veio lançar sobre a terra, é o fogo do amor divino que deve envolver os homens.
É a partir da cruz, o temido batismo, que ele começará a arder. Mas não são
todos – longe disso! – que se deixarão tomar pela exigência absoluta desse
fogo, se bem que este amor, que amaria, e assim o poderia, conduzir os homens à
unidade, divide-os por causa de sua resistência.
Mais nítida e inexoravelmente que
antes de Cristo, a humanidade se dividirá em dois reinos ou agrupamento de
Estados, que Agostinho chama a “Cidade de Deus”, dominada pelo amor, e a
“Cidade deste mundo”, dominada pela cobiça.
Jesus mostra que a divisão corta ao
meio os vínculos familiares mais estreitos e, segundo a descrição de São Paulo,
passa até mesmo pelo coração, onde a carne luta contra o espírito (cf. Gl
5,17), e o “homem infeliz” não faz o ele desejaria, mas faz aquilo que, no
fundo, ele aborrece.
Portanto, isto não é – nem para
Jesus, nem para Paulo – uma trágica fatalidade; é um combate que deve ser
mantido até a vitória: o amor e o ódio não são dois princípios igualmente
eternos (como o pensavam os maniqueus), mas nós podemos “vencer o mal pelo bem”
(Rm 12,21). E é para isto que nós recebemos a graça divina.”
Afinal, que é um santo, senão uma
pessoa que se aproximou de Deus e se deixou queimar?
Orai
sem cessar: “Parecia um fogo a queimar-me por dentro...” (Jr 20,9)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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