Maria, tua esposa... (Mt 1,18-24)
“José amava Maria.
Desde o primeiro encontro, sentira que ela era única e que Deus a confiava a
ele. Iria agora pedir-lhe que a sacrificasse tal como Abraão precisou
decidir-se pela imolação de Isaac?” Este é o dilema proposto por Maurice Zundel
em sua meditação sobre o Evangelho de hoje, conhecido como a “Anunciação a
José”.
No coração de
José, uma ferida infinita. “Ali estava o fato – diz Zundel – que nenhuma
negação, nenhuma ternura podia remover. A inocência da esposa iluminava com uma
luz dilacerante os abismos de seu sofrimento.” E José não podia falar com Maria
sobre aquilo, pois ela mesma preferira o silêncio. “Cada palavra teria parecido
um ultraje. O silêncio lhe daria a liberdade, atestando a confiança que tinha
nela.”
Agonia na alma, o
corpo adormecido em uma espécie de vida suspensa, José se cala. Maria vela na
vigília do segredo de Deus. A Prometida “vigia como pode velar o amor de uma
noiva quando aquele que ela ama lhe é tirado em virtude de circunstâncias que
ordenam a separação, consagrando a eternidade da ternura. O sim que liga sua
alma a José é tanto mais irrevogável por comprometer sua fidelidade a Deus, que
é o único fundamento daquela união”.
Em geral, não
refletimos o suficiente sobre as angústias de São José. É no extremo delas que
o Anjo entra em cena.
- “José (ele o
toca como se faz com uma criança que dorme)... filho de Davi (herdeiro da promessa
que se vai cumprir em ti)... não temas receber Maria (cujo nome encerra a
candura e a alegria de todas as auroras)... tua esposa (de fato, é este o
título que a faz tua para sempre diante de Deus)... pois o que nela foi gerado
(para que ressoe em ti o júbilo divino de todos os Natais)... é obra do
Espírito Santo (que é a eternidade do Amor na eternidade do Ser)...”
Ao acordar, José
obedece ao aceno do Anjo: acolhe sua esposa.
“E foi assim –
conclui Maurice Zundel – que aquele casamento único foi concluído, na plenitude
de um amor que havia sacrificado a própria alegria da presença amada à verdade
crucificante do dom.”
Agora se entende
que a Escritura chame José de Nazaré de “homem justo” (cf. Mt 1,19), um homem
no qual se percebia a santidade de Deus. Agora se entende a expressão “Sagrada
Família”, pois o Amor divino a consagrou.
Orai sem cessar: “Meu
amado é para mim, eu sou para meu amado” (Ct 2,16)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário