Origem de Jesus Cristo... (Mt 1,1-17)
Este
Evangelho nos apresenta uma daquelas passagens que costumamos saltar ao ler a
Escritura: um elenco de nomes estranhos, geração após geração, listando de
Abraão a Maria, “da qual nasceu Jesus”.
Que
teria levado o evangelista Mateus a optar por esta lista, em vez de prender
logo a atenção do leitor com algum milagre ou alguma aparição angélica? Vejamos
o comentário de São João Crisóstomo [347-407 d.C].
“É
uma coisa espantosa ouvir dizer que um Deus, natureza inefável e que ultrapassa
infinitamente nossos pensamentos, igual ao Pai, tenha descido ao seio de uma
virgem, tenha-se dignado nascer de uma mulher e ter por antepassados Davi e
Abraão. E que digo eu: Davi e Abraão? É preciso incluir – o que é mais terrível
– essas mulheres perdidas [Betsabé, Tamar e Ruth] de que acabamos de falar.
Que
vossos pensamentos se elevem ao ouvir isto, e não admitam nada de vil em vosso
espírito: é um motivo a mais para admirar que o Filho do Eterno, o Filho
consubstancial de Deus, tenha sofrido ser chamado o filho de Davi para nos
comunicar o título de filho de Deus; que ele tenha querido ter um pai escravo a
fim de dar o Senhor como pai para o escravo. Quando ouves, pois, que o Filho de
Deus é também o filho de Davi, o filho de Abraão, não duvides que tu mesmo,
filho de Adão, possas tornar-te filho de Deus. Não, ele não se teria humilhado
desse modo sem ter um objetivo: o de nos elevar. Ele nasceu segundo a carne
para fazer-te nascer segundo o Espírito.”
Crisóstomo
vai encerrar sua reflexão conjurando-nos a meditar sobre estas coisas, capazes
de produzir em nós os efeitos mais salutares. De fato, Cristo não veio para
evitar nossas humilhações, mas para livrar-nos delas. Veio como médico, não
como juiz. Por isso Ele assume integralmente a carne dos mortais, sem pejo e
sem nojo. “Tal como esses homens desposaram mulheres perdidas, assim mesmo Deus
se uniu a uma natureza que caíra na fornicação”, diz o Padre da Igreja.
Se
o Salvador tivesse descido do Olimpo, aéreo e espiritual, isento das mazelas
humanas, ele poderia permanecer alheio às sombras de nossa condição. Tendo, porém,
nascido de nossa carne e de nosso sangue, ele conhece “de dentro” as nossas
fraquezas e delas se compadece. Carne de nossa carne, e por ele que nos
tornamos família de Deus. Este é o nosso Cristo...
Orai sem cessar: “E
o Verbo se fez carne...”
(Jo 1,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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