Sereis odiados... (Mt 10,17-22)
Pregadores
de hoje – inclusive os que se autodenominaram bispos e apóstolos! – preferem
pregar um “evangelho” hidroaçucarado, oferecendo à assembleia pílulas douradas
e promessas de fama e riqueza. Jesus Cristo, em plena contramão, adverte seus
seguidores que seriam perseguidos em razão de sua adesão à Boa Nova. Ao que se
vê, ele não entendia de marketing...
Em
seu livro “A vida cotidiana dos primeiros cristãos” (Ed. Paulus, 1997), A.-G.
Hamman nos dá um quadro da arriscada situação dos fiéis no Império Romano. Era
da rua que vinha o ódio maior, numa época em que a opinião pública valia como
contrapeso ao poder de César.
“Por
mais que o cristão vivesse com todo mundo, frequentasse termas e basílicas e
exercesse as mesmas profissões que os outros, ele punha nisso matizes e, às
vezes, reservas. Uma parte de sua existência escapava, surpreendia. Sua fé era
tachada de fanatismo; sua irradiação, de proselitismo, e sua retidão, de
censura.”
O
povo logo notava a mudança no convertido ao Evangelho: “A mulher evitava os
trajes vistosos e o marido já não jurava por Baco ou por Hércules. Pagar
impostos tornava-se suspeito: ‘Ele nos quer dar lições’, diziam esses mediterrâneos.
Os cristãos eram conhecidos como escrupulosos a respeito de pesos e medidas. A
honestidade se voltava contra eles e os indicava à atenção dos outros”. Numa só
palavra, ser bom e honesto deixava o cristão em perigo.
Se
a ajuda mútua despertava a admiração do pagão, a fraternidade entre senhores e
escravos parecia duvidosa e incompreensível aos mais cultos. Na escola, o jovem
cristão já sofria bullying: chegou
até nós o grafitti de um asno
crucificado com a inscrição: “Alexâmenos adorando seu deus”. Logo abaixo, a
resposta do jovem cristão: “Alexâmenos fiel!”
O
seguidor de Jesus não ia ao teatro (onde o nu total era comum) nem às arenas (a
violência chegava até a morte do vencido). Essa ausência era notada e dava
origem a boatos. Circulavam mexericos a respeito do culto eucarístico dos
cristãos, acusados de canibalismo por imolar crianças vivas e beber seu sangue.
O celibato voluntário e a virgindade valorizada eram motivo de zombaria.
Estranheza,
distância, desprezo, calúnias, perseguições: eis o preço de seguir Jesus. Não
admira que poucos sejam fiéis. Ainda hoje...
Orai sem cessar: “Meus inimigos são muitos;
com
ódio implacável me perseguem...” (Sl 25,19)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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