Herodes mandou matar... (Mt 2,13-18)
Esta
é uma das páginas mais terríveis dos Evangelhos: o assassinato em massa de
crianças inocentes. Ainda estávamos enlevados com o lirismo da gruta de Belém,
e o ódio do rei invade a cena. Tentando atingir o novo “rei” que o ameaça,
Herodes manda exterminar todas as crianças “de dois anos para baixo”, na
humilde cidade de Davi.
Eis
o comentário de Edith Stein: “Desde o dia seguinte ao Natal, a Igreja depõe as
vestes brancas de festa e se reveste da cor do sangue. Estêvão, o primeiro
mártir a seguir a Senhor, e as crianças inocentes, lactentes de Belém e de
Judá, que foram degoladas pelas mãos cruéis dos carrascos, reúnem-se em torno
do Menino no presépio, formando o seu séquito.
Que
significa tudo isto? Onde está agora a alegria dos exércitos celestes? Onde a
silenciosa ventura da noite santa? Onde está a paz sobre a terra?
‘Paz
na terra aos homens de boa vontade!’ Mas nem todos são de boa vontade. O
misterioso poder do mal envolvia o mundo na noite, e foi preciso que o Filho do
Pai eterno descesse da glória do céu. As trevas cobriam a terra e ele veio como
a luz que brilha nas trevas, e as trevas não o receberam.
Para
aqueles que o receberam, ele trouxe a luz e a paz; a paz com o Pai do céu, a
paz com todos aqueles que também são filhos da luz e filhos do Pai, e a paz
profunda do coração, mas não a paz com os filhos das trevas. Para estes, o
Príncipe da paz não traz a paz, mas a espada. Para eles, Jesus é a pedra de
tropeço contra a qual eles avançam e que os quebra. Eis a grave e pesada
verdade que não deve dissimular o poético encanto do presépio.
O
mistério da encarnação e o mistério do mal estão estreitamente ligados. À luz
descida do céu vem opor-se, tanto mais sombria e lúgubre, a noite do pecado.”
E
nós pensávamos que a Encarnação do Filho e sua presença entre nós fosse o
início daquele reino decantado por Isaías, quando o lobo e o cordeiro pastariam
juntos... Em nossa inocente ilusão, imaginávamos que o mal se entregaria sem
reação, que as crostas do ódio se fundiriam em rios de mel...
Não.
O mal resiste ao bem. A avareza rejeita a partilha. O poder recusa a igualdade.
A ambição não tem olhos para o pobre. No meio das palhas de trigo, o Menino
estende a cada um de nós as mãozinhas inocentes, mas são muitos os que preveem
prejuízos com a chegada de Jesus. Qual será a nossa reação?
Orai sem cessar: “Não
esqueças para sempre, Senhor, a vida de teus pobres!” (Sl 74,19b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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