Ele recebeu-o nos braços... (Lc 2,22-35)
O
Velho Simeão representa bem aquela fatia do povo da Primeira Aliança que, como
sentinela sobre a muralha, atravessara os séculos em atenta vigília, à espera
do Messias prometido. Os ícones da Igreja do Oriente mostram o Menino todo
luminoso nas mãos de Simeão, que tem os olhos fitos nos olhos Menino, a ponto
de se poder traçar entre eles uma linha reta.
Como
pano de fundo, a frase de seu Cântico, o “Nunc Dimittis”: “Meus olhos
viram a tua salvação”. Cumprida a promessa de Deus, tendo já testemunhado a
fidelidade de Deus, Simeão canta: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu
servo!” Isto é, já posso morrer, pois vivi o momento-chave de minha vida.
“Despedir” (em grego, apolýo) é o verbo que designa o gesto do dono ao
libertar o escravo. Podemos traduzir por “libertar”, “desvincular” da promessa
já cumprida.
Por
isso mesmo, ao presenciar a chegada de José e de Maria, que traziam o Menino
para sua apresentação no Templo do Senhor, Simeão estende prontamente os braços
no gesto de acolhida. Este ancião é a imagem daqueles que, movidos pela Graça
de Deus, abrem a Jesus a alma e o coração, tomando-o como centro e motivo de
sua existência.
Mas
permanece atual o grande mistério da recusa do Cristo. São ainda numerosos
aqueles que não se abrem ao oferecimento gratuito de salvação, na pessoa de
Jesus. Tal como no tempo de Cristo, quando muitos de seus contemporâneos o
recusaram, em especial aqueles que teriam algo a perder – política ou
financeiramente –com a adesão ao Mestre de Nazaré, também hoje há pessoas e
grupos de coração empedernido, que movem contra Cristo e sua Igreja a mais
feroz oposição.
Deixando de
lado a hipótese de uma opção consciente pelo Anticristo, a atitude desse
exército inimigo pode ser entendida como uma reação de defesa, apegados que
estão a projetos e ideais que nascem da ambição e do ódio, da concupiscência e
da luxúria, da ganância e do hedonismo pagão. Para eles, o Mártir do Calvário é
permanente ameaça. Por isso guerreiam contra Ele, pensando com isso preservar
sua liberdade e sua autonomia. Nada diferente do pecado das origens, quando o
primeiro casal acatou a sugestão monstruosa de decidir, por conta própria, o
que era o bem e o que era o mal... A mesma soberba, a mesma rebeldia.
E
o velho Simeão abraça longamente o Menino, sabendo que nele está a sua razão de
viver... E nós?
Orai sem cessar: “Para
teu servo, realiza tuas ordens!” (Sl 119,38)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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