No 15º ano do Império... (Lc 3,1-6)
Assim começa o
Evangelho deste 2º Domingo do Advento. À primeira vista, parece apenas uma
cláusula temporal, mas é muito mais que isso. Estamos diante da “invasão”
divina na história da humanidade, marcada por tantas personagens: Tibério,
Pilatos, Herodes, Filipe, Lisânias, Anás e Caifás, João Batista. O Evangelho –
isto é, a Boa Notícia que Deus tem para os homens - não é uma lenda piedosa nem
uma aérea antífona para o coral dos anjos! É na história dos homens, amassada
de argila, suor e lágrimas, que o Verbo vem penetrar para nos realizar nossa
salvação de dentro para fora...
Não admira que ela
seja uma história de medos e recusas, ciúmes e armadilhas, jogos políticos e
infanticídio. Mas também uma história de jejum e oração, de reflexão no
deserto, de missão assumida com o próprio sangue. Não conheço nada menos
alienado que o Evangelho do Filho de Deus que nasce de Mulher!
Outras religiões talvez
nos apresentassem mitos olímpicos, imagens poéticas, arquétipos universais, mas
apenas símbolos. Aqui, não! Em especial, temos dois fatos claramente datáveis.
O primeiro deles é que a palavra de Deus é dirigida ao filho de Zacarias, João,
o Batizador. Este “filho impossível”, nascido de mulher estéril, é o último dos
profetas da Primeira Aliança, fechando o ciclo de séculos de profecia que
orientou o Povo Escolhido e o manteve na muralha, vigiando a chegada do
Messias.
João “cumpre”,
isto é, dá acabamento às profecias, tal como a chave de abóbada completa o arco
romano. Só ele pôde dizer: “Está próximo!”
O segundo fato é a
missão pessoal de João, que não se limita a repetir as palavras dos profetas
antigos, mas convida o povo a um batismo de penitência, como preparação
imediata para a acolhida ao Salvador. Como diz Urs von Balthasar, “mergulhado
na água e ao sair dela, o ‘convertido’ atesta que doravante quer viver como um
outro, um purificado, e tornar reto o seu caminho tortuoso”.
Chamado de
Precursor (= aquele que corre na frente do Messias), João Batista estende uma
ponte entre os dois Testamentos, fazendo a transição entre a Primeira e a Nova
Aliança. Vale lembrar que ele ainda estava no ventre da mãe quando Maria
abraçou Isabel (cf. Lc 1,44), e neste encontro das duas Alianças, o Espírito
Santo lhe foi transmitido à simples saudação de Maria. Ainda na vida pré-natal,
João estremece de alegria para anunciar o Messias. O próprio Jesus iria realçar
a sua grandeza: “Entre os nascidos de mulher, não houve quem fosse maior que
João Batista”. (Mt 11,11.)
Orai sem cessar: “A
voz do Senhor sacode o deserto!” (Sl 29,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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