sábado, 2 de julho de 2011

PALAVRA DE VIDA

Aflitos, à tua procura... (Lc 2, 41-51)
       Esta aflição, só pode imaginá-la quem já teve um filho desaparecido, uma filha sequestrada. Quem passou uma noite de angústia à procura de uma jovem que não chegava... E naquele caso, era nada menos que o Filho de Deus!
       Nas grandes festas, a cidade de Jerusalém chegava a abrigar 150 mil peregrinos. Alguns estudiosos ainda elevam este número. Um formigueiro humano, em área bem reduzida, onde uma criança facilmente se perderia.
       De Nazaré a Jerusalém, por 120 a 140 km de estrada montanha acima, a comitiva tinha os homens à sua frente; atrás, as mulheres e as crianças. Jesus chegara à idade de celebrar sua cerimônia de maioridade, o Bar Mitsvah [em hebraico, o “filho do preceito”], quando o adolescente, aos doze ou treze anos, participava de um ritual, passava a ser responsável por seus próprios atos e assumia o direito de proclamar a Palavra na sinagoga judaica.
       Após a semana da Páscoa, de volta a Nazaré, Jesus não estava com as mulheres e Maria deve ter julgado que, agora “adulto”, estaria com os homens adiante. Não estava. José, por sua vez, deve ter avaliado que, mesmo após o seu Bar Mitshvah, o “garoto” estaria com os coleguinhas, entre as mulheres. Não estava...
       Após um dia de caminho, quando os casais se reuniram para a sopa, deram pela falta do Menino. Ah! A angústia de refazer o caminho e buscar em vão pelo filho perdido, junto a parentes e conhecidos, durante três dias, para, enfim, encontrá-lo no Templo, entre os doutores da Lei, que se espantavam da incomum sabedoria de Jesus!
       E a queixa materna: “Meu filho, que nos fizeste?! Teu pai e eu, ansiosos, à tua procura...” E a resposta inesperada: “Não sabiam que eu devo cuidar da Casa de meu Pai?” Afinal, quantos pais tinha esse estranho Menino? Dois, parece. Um pai (com minúscula) legal, nutrício, putativo: o carpinteiro José. E um Pai (com maiúscula) divino, eterno, genitor. E este Pai tem a precedência. Dele provém e para Ele voltará, tão logo tenha cumprido a sua missão terrena.
       Também nossos filhos não nos pertencem. Pertencem a Deus. Pertencem à missão que Deus traçou para eles. Teremos, talvez, noites de angústia quando se perderem por seus caminhos. Mas não podemos retê-los, quando chegar sua hora de partir, palmilhar sua própria estrada, carregar sua cruz...
       Nós também somos filhos. Deus está todo o tempo à nossa procura. Quando permitiremos que ele nos encontre?

Orai sem cessar: “Senhor, como são amáveis as vossas moradas!” (Sl 84, 2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário