domingo, 4 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

Transfigurou-se diante deles... (Mc 9,2-10)

    Na Igreja do Oriente, a festa da Transfiguração de Cristo é celebrada com um brilho especial. Desde o início, os Padres gregos viram na Transfiguração uma antecipação luminosa do destino de cada cristão na vida futura. É de Anastásio, o Sinaíta [+ca.700d.C.], este trecho de um sermão:

    “Hoje, sobre o Monte Tabor, Cristo recriou a imagem da beleza terrestre e transformou-a em ícone da beleza celeste. Por isso é justo e bom que eu diga: ‘Este lugar é terrível! É nada menos que a casa de Deus e a porta do céu!’ (Gn 28,17.)

    Hoje, o Tabor e o Hermon exultaram juntos (cf. Sl 89,13); eles convidaram à alegria todo o universo. Zabulon e Neftali uniram-se à festa e dançaram debaixo do sol.

    Hoje, a Galileia e Nazaré entraram na dança e animaram a celebração com seus coros. O Monte Tabor se rejubila com a festa e arrasta para Deus a criação, recriando-a.

    Hoje, de fato, o Senhor apareceu verdadeiramente sobre a montanha.

    Hoje, a natureza humana, outrora criada semelhante a Deus, mas obscurecida pelas figuras informes dos ídolos, foi transfigurada na antiga beleza do homem criado ‘à imagem e semelhança de Deus’ (Gn1,26-27).

    Hoje, sobre a montanha, a natureza que se havia transviado na idolatria sobre as montanhas, foi transformada mesmo permanecendo ela-mesma, e brilhou com a claridade resplendente da divindade. Hoje, sobre a montanha, aquele que estava vestido com as sombrias e tristes túnicas de pele de que fala o Gênesis (Gn 3,21), pôs sobre os ombros a vestimenta divina, envolvendo-se ‘de luz, como de um manto’ (Sl 104,2).

    Hoje, sobre o Monte Tabor, apareceu misteriosamente a condição da vida futura e do Reino da alegria.

    Hoje, de modo espantoso, os antigos mensageiros da Antiga e da Nova Aliança reuniram-se em torno de Deus sobre a montanha, portadores de um mistério cheio de paradoxo.

    Hoje, sobre o Monte Tabor, desenha-se o mistério da cruz que, pela morte, dá a vida: exatamente como Cristo foi crucificado entre dois homens sobre o Monte Calvário, assim ele se reveste da majestade divina entre Moisés e Elias. E a festa de hoje nos mostra este outro Sinai, montanha tanto mais preciosa que o Sinai por suas maravilhas e acontecimentos: por sua teofania, ela ultrapassa as visões divinas figuradas e obscuras.

    Enquanto sobre o Sinai os símbolos foram pintados como prefiguração, já no Tabor explode a verdade. Lá, era a obscuridade; aqui, o sol. Lá, as trevas; aqui, a nuvem luminosa. De um lado, a Lei do decálogo; do outro, o Verbo pré-eterno a toda palavra. A montanha do Sinai não abriu a Moisés a terra prometida, mas o Tabor o introduz na terra da Promessa.”

Orai sem cessar: “É na vossa luz que vemos a luz!” (Sl 36[35],10)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança

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