segunda-feira, 5 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

 Não julgueis! (Lc 6,36-38)
            Entendo que alguém possa estranhar esta exortação de Jesus: “Não julgueis e não sereis julgados”. Pode dar a impressão de neutralidade omissa. O olho atento, porém, há de perceber a cláusula implícita: não julgueis e (em consequência) não sereis julgados. Isto é, quem assume o papel de juiz não escapará à condição de réu! Ao contrário, quem usa de misericórdia também encontrará misericórdia.
            E de onde vem nossa estranheza? É que nos ensinaram que nós, os engajados, devíamos primar pelo “espírito crítico”. Em decorrência disso, aprendemos a julgar a tudo e a todos, indiscriminadamente. E foi assim que nos entregamos à mais crua (e cruel) contabilidade: quem deve tem de pagar! E, ao fazê-lo, não percebemos em nós mesmos os primeiros sintomas do desespero...
            Sim, querer realizar – – o balanço de um mundo que ainda não está pronto, é mais que ansiedade: é falta de esperança. Significa que, no fundo, não esperamos que as coisas mudem para melhor. Não passa por nossa cabeça que ocorra algum milagre. Já não esperamos por nenhuma intervenção divina. Não cremos em uma possível (mesmo que improvável) salvação.
            Assim, para obedecer a Jesus Cristo e não assumir implacavelmente a beca negra dos magistrados, nós precisamos manter viva a esperança. É dela que eu falo em meu soneto “Noturno”:
            Ergue teus olhos para os céus azuis,
            Onde o sol agoniza no poente:
            A claridade se desfaz, dormente,
            Mas o amanhã trará de novo a luz...
Se teu jardim tem os canteiros nus
Depois da seca, no verão ardente,
Há de florir a rosa novamente
Para exalar o aroma que seduz...
            Não te espantes se, agora, vence o mal
            E a rosa se desfolha ao vendaval,
            As pétalas caídas pelo chão...
Mesmo na noite, eleva a tua prece,
Pois a esperança sempre prevalece,
Moendo o trigo e amassando o pão!

Orai sem cessar: “Em vós, Senhor, eu espero sempre!” (Sl 25 [24],5)
Texto e soneto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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