quinta-feira, 22 de março de 2012

PALAVRA DE VIDA

Vosso acusador será Moisés! (Jo 5,31-47)
            No fundo, a sociedade humana não deveria depender de códigos e de legisladores. É que a voz de Deus sempre fala ao coração de cada homem que vem a este mundo. Mesmo os grupos humanos mais primitivos sempre receberam alguma luz interior que lhes permitisse escolher entre um ato e outro, mais ou menos humano, mais ou menos moral. Desde o primeiro assassino – Caim – o tribunal da consciência bastava para a acusação: “Meu crime é pesado demais para carregar... E todo aquele que me encontrar me matará”. (Gn 4,13-14.)
            É claro que a argila humana está exposta à corrupção. A consciência humana pode degradar-se. Mesmo assim, não temos o direito de alegar o desconhecimento do bem. Como escreve São Paulo (Carta aos Romanos 1, 16ss), os pagãos que viveram antes do Evangelho também foram visitados por Deus, que lhes havia falado através das perfeições visíveis da Criação. Transviados, adoraram a criatura em lugar do Criador. A idolatria foi o prelúdio da degradação moral. “Embora conheçam o veredicto de Deus, que declara dignos de morte os que cometem tais ações, eles não se limitam a praticá-las, mas aprovam ainda os que as cometem.” (Rm 1,32)
            No Evangelho de hoje, Jesus não se dirige a pagãos, mas aos judeus de seu tempo, ninguém menos que os depositários da revelação de Deus por meio dos profetas e patriarcas. Alvo das preferências do Senhor, aquele povo recebera na montanha do Sinai a própria Lei de Deus. Sua responsabilidade era, pois, acrescida.
Por isso mesmo, sua recusa em acolher o Messias manifestava ao mesmo tempo a falta de amor, o apego à glória humana e a deturpação dos textos sagrados, jogando no lixo todos os testemunhos a eles oferecidos: o testemunho de João, os sinais e milagres de Jesus e, por consequência, as promessas da Primeira Aliança.
            Também nós, que nos consideramos legítimos herdeiros da Nova e Eterna Aliança, podemos mergulhar no mesmo abismo, se nos apegamos ao orgulhoso rótulo de “filhos de Deus”, mas não agimos na obediência própria desta condição. Como os judeus daquele tempo, corremos o risco de vestir uma capa de superioridade, apegar-nos a ritos de pureza, à excelência do culto, e esquecer o essencial em nossa relação com Deus e o próximo: o amor que dá a vida pelo outro.
Nós cremos que Jesus Cristo, o mesmo que morreu e ressuscitou, há de vir uma segunda vez para julgar os vivos e os mortos. E se alguém o recusa como Juiz e Senhor, nem por isso escapa ao julgamento: com as tábuas da Lei debaixo do braço, Moisés em pessoa fará o seu trabalho...

Orai sem cessar: “O Senhor julgará o seu povo!” (Hb 10,30)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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