Sim, nossos mortos estão vivos. Não “dormem”, em animação suspensa, como aqueles ricaços norte-americanos que, tomados por um câncer até aqui incurável, mandaram congelar seu corpo em nitrogênio líquido, à espera da evolução da ciência médica... Com a morte, nossa alma se separa do corpo. Este, lançado à terra, com o respeito e a veneração devidos àquele que foi por tantos anos o “templo do Espírito Santo” (cf. 1Cor 6,19), logo se desfará em seus elementos químicos originais.
Mas é imortal a nossa alma espiritual. Vive para sempre, à espera do novo corpo que lhe será dado na ressurreição da carne, conforme professamos ao rezar o “Símbolo dos Apóstolos”.
- Vive onde? – alguém perguntaria. Ora, Vive em Deus! Os ramos da videira não são podados pela morte. Os membros do Corpo de Cristo, depois de uma vida em comunhão com Cristo-Cabeça, irrigados pela mesma circulação da Graça, não são amputados pela morte. Esta comunhão (sýssomos, um só corpo com Cristo, sýnaimos, um só sangue com Cristo – na expressão de São Cirilo de Alexandria!) permanece e se projeta além de nossa morte.
De outra forma, como poderíamos entender a disposição de S. Teresinha do Menino Jesus de “passar o céu trabalhando na terra”, se a Pequena Teresa estivesse anestesiada, à espera da Segunda Vinda?! Não estivessem vivos os nossos mortos, como poderiam cumprir a “permanência do amor” lá no céu, mesmo quando já não exista espaço para a fé e a esperança, como ensina o Apóstolo Paulo (cf. 1Cor 13,8).
Desde o início, quando celebrava a Eucaristia sobre o túmulo do fiel martirizado na véspera, a Igreja sempre soube que nossos mortos celebravam conosco, junto aos coros dos anjos, reunidos em volta do altar. Esta “memória” mística se manifesta nas expressões rituais da Oração Eucarística: o “memento” (do verbo meminiscere = lembrar) dos mortos, paralelamente ao “memento” dos vivos. É que o sacrifício de Cristo-Cabeça é inseparável do sacrifício de seus membros, que o celebram e atualizam por Cristo, com Cristo, em Cristo.
Assim, é em Cristo que nossos mortos vivem, após uma vida em comunhão com Ele. Enfim, não fora outra a promessa de Jesus em seu discurso eucarística (Jo 6,51): “Eu sou o pão vive que desce do céu. Quem comer deste pão viverá para a eternidade.”
Orai sem cessar: “O Senhor resgata a vida de seus servos!” (Sl 34,23)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança
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