quarta-feira, 7 de novembro de 2012

PALAVRA DE VIDA

 Quem não carrega sua cruz... (Lc 14,25-33)


      Antigo e solene hino da liturgia cristã – o Pange Lingua - fazia o elogio da cruz de Cristo: “Ó cruz fiel, árvore nobre entre todas as outras: nenhuma planta produz igual, seja pela fronde, pelas flores ou pelos frutos!” [Crux fidelis, inter omnes / arbor una nobilis: / nulla silva talem profert, / fronde, flore, germine...] Nos ícones cristãos do Oriente, a cruz do Calvário é identificada com a árvore da vida que envolve toda a Sagrada Escritura, desde o Gênesis (2,9) até o Apocalipse (22,2).

            Como foi que nossa mente degenerou a tal ponto, que reduzíssemos a cruz a tenebroso instrumento de suplício? É verdade que os soldados romanos adotaram do mundo persa o hábito de crucificar grandes criminosos. Um cidadão romano – como o apóstolo Paulo – não podia ser crucificado. Mas a visão cristã a respeito da cruz é bem outra. O Filho de Deus cravado na cruz supera toda impressão de sofrimento e tortura para elevar ao mais alto grau a demonstração do amor divino pela humanidade. “Tanto Deus amou o mundo...” (Jo 3,16.)

            Neste Evangelho, Jesus deixa claro que a recusa da cruz nos impedirá de viver como discípulos do Mestre crucificado. Amor e paixão caminham abraçados. Sem esquecer que “paixão” vem do verbo “patior” (= sofrer). Só o amor dá sentido ao sofrimento humano. E nossa atitude diante da cruz será a verdadeira prova de nosso amor...

            Eis o que escreve a filósofa Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz, carmelita), ao comentar a mística de São João da Cruz: “Entre a cruz e o sofrimento não há semelhança imediatamente perceptível; entretanto, a significativa relação entre ambos não é arbitrária. A cruz adquiriu significado por sua história; não é mero objeto criado pela natureza, e sim instrumento fabricado e usado pelo homem para um fim determinado. Como instrumento, a cruz desempenhou na história um papel de incomparável alcance, como o sabem todos os que vivem em ambiente cultural cristão. Por essa razão, a cruz conduz o espírito, em virtude de sua forma concreta, à plenitude do sentido que a ela se liga. É, pois, um sinal, cujo significado não é artificial, mas real, condicionado pela história. Sua forma visível conduz à vasta gama de conotações em que ocupa um lugar determinado. Assim, podemos com razão chama-la de insígnia”. (A Ciência da Cruz, p.41.)

            Notável! Cruz, insígnia do cristão. Aquela marca na fronte do batizando. Aquele sinal no início da oração. Aquela bênção sobre o moribundo. A cruz nos acompanha por toda a existência...

            Por que é tão negativa a nossa reação diante das cruzes de cada dia? De onde virá a cegueira que nos impede de identificar nessas cruzes exatamente a ocasião de abraçar o Crucificado e receber a salvação?
Orai sem cessar: “No dia de minha angústia, busco o Senhor!” (Sl 77,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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