Antigo e solene hino da liturgia
cristã – o Pange Lingua - fazia o
elogio da cruz de Cristo: “Ó cruz fiel, árvore nobre entre todas as outras:
nenhuma planta produz igual, seja pela fronde, pelas flores ou pelos frutos!” [Crux fidelis, inter omnes
/ arbor una nobilis: / nulla silva talem profert, /
fronde, flore, germine...] Nos ícones cristãos
do Oriente, a cruz do Calvário é identificada com a árvore da vida que envolve
toda a Sagrada Escritura, desde o Gênesis (2,9) até o Apocalipse (22,2).
Como
foi que nossa mente degenerou a tal ponto, que reduzíssemos a cruz a tenebroso
instrumento de suplício? É verdade que os soldados romanos adotaram do mundo
persa o hábito de crucificar grandes criminosos. Um cidadão romano – como o
apóstolo Paulo – não podia ser crucificado. Mas a visão cristã a respeito da
cruz é bem outra. O Filho de Deus cravado na cruz supera toda impressão de
sofrimento e tortura para elevar ao mais alto grau a demonstração do amor
divino pela humanidade. “Tanto Deus amou o mundo...” (Jo 3,16.)
Neste
Evangelho, Jesus deixa claro que a recusa da cruz nos impedirá de viver como
discípulos do Mestre crucificado. Amor e paixão caminham abraçados. Sem
esquecer que “paixão” vem do verbo “patior”
(= sofrer). Só o amor dá sentido ao sofrimento humano. E nossa atitude diante
da cruz será a verdadeira prova de nosso amor...
Eis
o que escreve a filósofa Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz, carmelita),
ao comentar a mística de São João da Cruz: “Entre a cruz e o sofrimento não há
semelhança imediatamente perceptível; entretanto, a significativa relação entre
ambos não é arbitrária. A cruz adquiriu significado por sua história; não é
mero objeto criado pela natureza, e sim instrumento
fabricado e usado pelo homem para um fim determinado. Como instrumento, a cruz
desempenhou na história um papel de incomparável alcance, como o sabem todos os
que vivem em ambiente cultural cristão. Por essa razão, a cruz conduz o
espírito, em virtude de sua forma concreta, à plenitude do sentido que a ela se
liga. É, pois, um sinal, cujo significado não é artificial, mas real, condicionado pela história. Sua
forma visível conduz à vasta gama de conotações em que ocupa um lugar
determinado. Assim, podemos com razão chama-la de insígnia”. (A Ciência da Cruz, p.41.)
Notável!
Cruz, insígnia do cristão. Aquela marca na fronte do batizando. Aquele sinal no
início da oração. Aquela bênção sobre o moribundo. A cruz nos acompanha por
toda a existência...
Por
que é tão negativa a nossa reação diante das cruzes de cada dia? De onde virá a
cegueira que nos impede de identificar nessas cruzes exatamente a ocasião de
abraçar o Crucificado e receber a salvação?
Orai sem cessar: “No dia de minha angústia, busco o Senhor!” (Sl 77,3)
Orai sem cessar: “No dia de minha angústia, busco o Senhor!” (Sl 77,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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