... aos pobres me enviou! (Lc 4,14-22a)
Desde o
Antigo Testamento, as promessas de Deus falavam de um Messias que seria enviado
aos pobres, acudindo aos órfãos, às viúvas e ao estrangeiro (cf. Is 1,17; 66,2;
Os 14,3). No entanto, quando se anuncia a ternura de Deus pelos pobres, até a
classe média (que não é rica, a rigor) se sente incomodada. No fundo, talvez,
não se sintam pobres... E por isso, sentem-se excluídos...
Ora, somos
todos pobres. O rico que não tem fé é pobre. O pobre que se revolta com sua
pobreza, também é. O idoso que vai perdendo a força e a saúde, eis o pobre! O
milionário que só conta consigo mesmo, como é pobre! Se o pobre que confia em
Deus é rico, o homem rico que se tranca a sete chaves com medo do ladrão,
pobrezinho!... Frei Raniero Cantalamessa fala de “ricos no tempo e pobres na
eternidade”, quando nossos tesouros são apenas as riquezas que passam, e não os
valores eternos. Dinheiro, terras e fama, tudo leva o tempo. Só o amor de Deus
permanecerá conosco...
Ouvir que
Jesus veio para anunciar a Boa Nova aos pobres devia nos encher de alegria e de
gratidão! Afinal, não podemos salvar a nós mesmos. Não há boa obra que possa
comprar-nos o céu. A salvação será sempre um dom gratuito que manifesta a
misericórdia, o “louco amor” de Deus por nós. Assim sendo, somos pobres: é
sobre nós que se derrama o rico amor de Deus.
Já é tempo,
pois, de mudar de mentalidade! Nós somos todos pobres. Somos absolutamente
miseráveis. E é exatamente a nossa miséria que “faz cócegas” na misericórdia de
Deus. Nossa miséria atrai seu olhar de compaixão. Jesus deixou isto bem claro:
quem precisa de médico é o doente; ele não veio para os “justos”, mas para os
pecadores...
Assim
comenta a Bíblia de Navarra: “Por ‘pobres’ deve entender-se, segundo a
tradição do AT e a pregação de Jesus, não tanto uma determinada condição
social, mas antes a atitude religiosa de indigência e de humildade diante de
Deus dos que, em vez de confiar nos seus próprios bens e méritos, confiam na
bondade e na misericórdia divinas”.
Claro, há
pobres à espera de meu amor e de meu serviço. É uma questão de fé! Como escreve
Bento XVI, “em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso
amor o rosto do Senhor ressuscitado. ‘Sempre que fizestes isto a um dos meus
irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes’ (Mt 25,40): estas palavras de
Jesus são uma advertência que não se deve esquecer e um convite perene a
devolvermos aquele amor com que Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer
Cristo, e é o seu próprio amor que impele a socorrê-Lo sempre que se faz
próximo nosso no caminho da vida”. (Porta
Fidei, 14)
Se me sinto
rico, tenho a ilusão de não precisar de Deus. Se sou pobre, Deus se debruça e
me abraça.
Orai sem cessar: “Senhor, o fraco se entrega a ti!” (Sl 10,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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