O vento era contrário... (Mc 6,45-52)
Quem não tem
prática de navegação a vela não imagina a importância do papel do vento! E como
é difícil velejar contra o vento! O mesmo vento que impele o veleiro como garça
ligeira – quando favorável – é o vento que rasga as velas e quebra o mastro,
quando encrespa o mar como tormenta e vendaval...
Ora, a vida
cristã sempre foi navegação contra o vento. Vento do paganismo, vento dos
césares, vento dos bárbaros, vento das revoluções, vento do nazismo, vento do
comunismo ateu. Perguntem aos mártires, a Pedro e Paulo, a Mindszenty e Van
Thuan, confessores da fé... Apesar de tantas barreiras e oposições, a Barca de
Pedro segue seu périplo em direção ao grande Dia do Senhor.
É bem
verdade que existem uns marinheiros chorões... Vivem reclamando: “Como é
difícil ser cristão!” Sobem à barca, mas não miram o horizonte. Divagam o olhar
para os lados, com saudades do porto, recordando o balé das praias na praia
preguiçosa e lamentando a distância dos grandes mercados e seus prazeres...
Nós não
podemos ser assim! Apesar da pobreza de nossos meios e da fragilidade de nossos
recursos pessoais, devemos navegar adiante, apoiados na Graça do Deus fiel que
jamais abandona o navio.
Como escreveu Orígenes, “quando,
entre sofrimentos, nos tivermos mantido firmes durante as longas horas da noite
escura que reina nos momentos de provação, quando houvermos lutado o melhor
possível para evitar o naufrágio de nossa fé, estejamos seguros de que ao fim
da noite, ‘quando noite estiver avançada e já nascendo o dia’ (cf. Rm 13,12), o
Filho de Deus virá junto de nós, caminhando sobre as águas, para nos tornar o
mar favorável”.
É quando
Jesus aparece a caminhar sobre as águas, demonstrando sua natureza divina e seu
domínio sobre os elementos. O Senhor está acima de todos os poderes naturais. E
o evangelista anota: apenas Jesus subiu à barca, o vento cessou.
Será que aprenderemos um dia esta
lição? Sem Jesus, nossa barca ameaça soçobrar. Crises na família. Atritos no
trabalho. Dissensões na Igreja. Se nossa humanidade falha e pecadora fica
entregue a si mesma, produz habitualmente tais frutos de morte. Competição,
inimizades, rancores. Mas se Jesus encontra espaço em nossa barca, o vento
cessa e vem a bonança.
O Evangelho de hoje deixa claro para
nós que foi de Jesus a iniciativa de ir ao encontro dos discípulos dominados
pelo medo. Certamente, há muito tempo Jesus tenta subir à nossa barca...
Por que será que ainda não o deixamos
entrar?
Orai sem cessar: “O Senhor será um
refúgio para o seu povo!” (Jl 4,16b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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