Esta
é a impressão dominante em muitos setores de nossa sociedade e, - quem sabe? –
de nossas Igrejas cristãs. Deus parece longe, retirado em seu nirvana pessoal,
indiferente à fome e à miséria, ao terrorismo e à corrupção. Deus viajou...
Na parábola deste Evangelho,
enquanto o Senhor “viajava”, assassinaram seu próprio Filho. O Senhor prepara
uma vinha excelente e a “aluga” prontinha para que nós (agricultores) a façamos
dar frutos. É a “nossa” história. O fim é conhecido: usurpação, ganância,
apropriação indébita, violência e assassínio. Tudo porque o Senhor da vinha
estava longe...
Quando Deus está longe, vale tudo! O
homem se torna lobo do homem. A Criação é reduzida a mera fonte de
matérias-primas. A cidade dos homens se muda em mercado. Pessoas são
mercadoria. A lei, apenas estorvo. Deus ausente, eu sou Deus e faço minha
própria lei, doa a quem doer.
Ora, será verdade que Deus viajou
para a face oculta da Lua? Está longe de nós? Quando Madre Teresa deixou a
segurança de seu colégio de ricos para cuidar das crianças remelentas das
favelas de Calcutá, não era Deus que se fazia presente naquele lixão? Quando
Francisco abre mão da herança paterna para se casar com a Irmã Pobreza, não era
Deus que acusava o capitalismo incipiente? Quando o Papa Francisco lembra às
religiosas que não devem viver como solteironas celibatárias, mas como
verdadeiras mães espirituais, não é a voz de Deus que lhes fala?
Parece que estamos esperando uma
nova encarnação divina ou algum arcanjo que venha tocar trombetas em nossos
parlamentos... Que Deus desça em pessoa, com um chicote na mão direita, para
vergastar os governantes iníquos... Pura ilusão! É por mãos humanas que Deus
age em nosso tempo. É por vozes humanas que Ele nos fala. É por pés humanos que
Ele se aproxima de nós.
A areia de nossa história está toda
marcada pelas pegadas de seus mensageiros. As freiras vicentinas de Rimini,
Itália, que cuidaram de meu pai até os 7 anos de idade, quando sua mãe morreu
no parto e o pai vivia 7 anos de guerra, não eram uma presença de Deus? Dom
Bosco, ao dedicar sua vida aos pivetes aprendizes do crime, não era uma
palpável presença de Deus? Os jovens da Comunidade Aliança de Misericórdia, ao
conviverem com mendigos, drogados e prostitutas nas ruas de São Paulo, não comprovam
que Deus está no meio de nós?
Hoje, nosso próximo parece cada vez
mais longe. Quando nos aproximaremos dele? Quando seremos a presença de Deus
que andam reclamando? Quando ousaremos ser as mediações divinas tão reclamadas?
Orai sem cessar: “Ele está no meio de nós!” (Liturgia Eucarística)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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