Está
à beira da morte o servo do centurião romano que construíra uma sinagoga para
os judeus da Palestina invadida por Roma. Belo exemplo de convivência entre o
dominador e o dominado. Na verdade, atitude incomum, pois o “normal” é o
vencedor explorar o vencido: Vae victis!
[Ai dos vencidos!]
O gesto amistoso do centurião tecera
ligações profundas com os judeus que, movidos de gratidão, intercedem por ele
junto a Jesus, pedindo a cura do enfermo. E justificam o pedido: “Ele
merece”...
Na ordem do dia, a questão do mérito. Em uma sociedade profundamente
contabilizada, nós rapidamente decidimos quem “merece” e quem “não merece”
favores, direitos ou – simplesmente – o cumprimento da lei. A lógica é a
seguinte: quem faz o bem, merece o bem; quem faz o mal, não merece nada, a não
ser a punição.
Pois Jesus pensa diferente. E ensina
diferente. Vale rever o Sermão da Montanha: “Amai os vossos inimigos e orai por
aqueles que vos perseguem! Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos
céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre
justos e injustos”. (Mt 5,44-45.)
Muita gente honesta e que se julga
cristã anda pedindo pena de morte para os criminosos e destila ódio mortal
contra seus agressores. No fundo do coração, pensam assim: “Eles merecem!”
Desta forma, parecem ignorar que Deus ama a vítima e o agressor. E que ainda
somos filhos mesmo quando negamos nosso Pai.
Certos grupos religiosos gastam seu
tempo e seus ritos para acumularem “méritos” que, uma vez atingindo certo
valor, lhes permitirão cobrar de Deus um lote no céu ou uma vida mais elevada
em outro plano. Ledo engano! Tudo é graça! Nada merecemos...
Foi o próprio Jesus Cristo que,
dando sua vida na cruz do Calvário, “mereceu” para nós a salvação. Nossos
crimes não se pagam: se a-pagam. E
as manchas vermelhas que borraram o documento que havia contra nós (cf. Cl
2,14) não eram manchas de tinta, mas de sangue... Assim, com ou sem méritos,
somos alvo do infinito Amor de Deus.
Nos meus tempos de Pastoral
Carcerária, na Penitenciária Dutra Ladeira, na Grande BH, conhecemos a mulher
que, aos domingos, visitava o jovem assassino de seu filho, levando um bolo,
remendando a roupa do preso e – quem sabe? – catando piolhos... A mulher dizia:
“Ele tem a idade do meu filho que morreu. Faço por este jovem o que eu faria
por meu filho...”
Isto é Evangelho. Boa Nova de
salvação. Este é o mundo novo, o novo Reino onde o Amor supera todo mérito e
refaz em profundidade o tecido da sociedade humana. O resto é apenas
filosofia...
Orai sem cessar: “Eu quero misericórdia, e não sacrifícios.” (Os 6,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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