O
episódio deste Evangelho nos dá um exemplo acabado da má consciência que
costuma desviar da verdade aqueles que se sentem ameaçados por ela. Preferem
alegar ignorância – ou afirmar que a verdade não está ao seu alcance – pois uma
tomada de posição os colocaria em terreno inseguro.
João Batista atraíra multidões,
anunciando a proximidade do Reino e pregando um batismo de penitência. Os
homens do Templo recusaram uma coisa e outra. Agora, são os mesmos personagens
– escribas, anciãos e sacerdotes – que vão a Jesus, questionando a autoridade
do Mestre para pregar e curar.
Como resposta, eles ouvem uma
pergunta inesperada: “O batismo que João havia pregado era do céu ou dos
homens?” Isto é, fora algo inspirado por Deus ou apenas um impulso pessoal do
Batista? E eles se veem em uma “saia justa”: como negar a ação divina diante do
povo que reconhecera João como profeta? Mas, se João era um profeta, por que
motivo não acolheram sua mensagem?
Com esta simples pergunta, Jesus
traz à luz a perversão espiritual dos homens do Templo. Assim sendo, eles acham
mais cômodo responder: “Não sabemos...” E quase acrescentaram: “Nem queremos
saber!”
Em nossos dias, é comum encontrar
entre nós o mesmo tipo de “cegueira voluntária”. Em especial naqueles grupos e
pessoas que, se admitissem a verdade do Evangelho, deveriam ao mesmo tempo
mudar de rumo, mudar de vida, deixar de lado seus critérios e valores. Como
isso poderia trazer incômodos e riscos, causar prejuízos materiais ou fechar as
portas do mundo pagão, é mais prático dizer: “Não sabemos!”
Jesus veio ao mundo para nos salvar
da morte eterna. Parte de sua missão consistia em nos revelar a Verdade sobre
Deus e a Verdade sobre o Homem. Foi por suas palavras que ficamos sabendo que
Deus é Pai. E que nós somos filhos!
Ora isso pode ser muito incômodo: a
relação entre Pai e filho inclui a obediência. E uma multidão de rebeldes
prefere traçar o próprio rumo, ainda que o resultado seja um autêntico
naufrágio da civilização humana.
E nós? Podemos alegar que “não
sabemos”? Fecharemos os olhos e os ouvidos à Palavra do Evangelho? Recusaremos
o convite às bem-aventuranças evangélicas? Vamos ignorar o magistério da Igreja
e o exemplo dos santos? Continuaremos tratando o próximo como inimigo ou objeto
de exploração? Gastaremos nosso tempo para acumular os tesouros que a traça vai
roer?
Orai sem cessar: “Vou te louvar, Senhor, com um coração sincero!” (Sl 119,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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