domingo, 9 de junho de 2013

PALAVRA DE VIDA

 Filho único... (Lc 7,11-17)
     Virou moda chamar os milagres de Jesus de simples “sinais”. Mesmo que esta seja uma legítima tradução da palavra grega semeion, poderia dar ao leitor a impressão de que tudo se reduz à moderna teoria da comunicação: palavras e atos portadores de um significado, nada mais...
            Ora, neste Evangelho cheio de humanidade, nós vemos Jesus diante da mãe viúva que enterra seu filho único, tal como ele estaria, em Betânia, diante da irmã que chorava a morte de Lázaro. Lá como cá, Jesus se comove. Estou plenamente convencido de que Jesus nem de longe pensa em dar sinais de sua divindade em um cortejo mortuário: apenas se deixa “tocar” pela dor humana e, “movido de compaixão” [no grego original, esplagnísthe = revolvido até as entranhas, até as vísceras!], faz aquilo que está ao seu alcance: chama o jovem morto de volta aos braços da mãe.
            Ademais, estamos aqui perante uma situação extrema: a mãe é viúva (um dos preferidos do Senhor Yahweh, ao lado do órfão e do estrangeiro!) e o filho é único. E disso Jesus entende: Ele também é Filho único! Ele sabe o quanto significa para seu Pai celeste. Ele sabe do imenso vazio que invadiria o coração do Pai se o Filho desaparecesse de seu espaço amoroso. Por isso mesmo, Jesus faz o jovem regressar ao mundo dos vivos e cumula de profunda alegria o coração da mãe.
            Nós também somos filhos únicos... Para Deus, cada um de nós é insubstituível. Se nos afastamos da casa do Pai, ele sofre com nossa ausência. Se morremos pelo pecado, ele (sim, o próprio Deus!) sofre com isso.
Não admira, pois, que Santo Agostinho, no Sermão 98, comparasse a Santa Igreja a esta pobre viúva que se alegra com a recuperação do filho. “A mãe viúva se alegra com seu filho ressuscitado. A Mãe Igreja se alegra diariamente com os homens que ressuscitam na sua alma. Aquele, morto quanto ao corpo; estes, quanto ao seu espírito. Aquela morte visível chora-se visivelmente; a morte invisível destes nem se chora nem se vê. Busca estes mortos o que os conhece, o que os pode fazer regressar à vida.”
            Deus é o Pai que acompanha a errância dos filhos mortos pelo pecado. Como na parábola, estará em permanente vigília, à espera do regresso do filho que partiu, depois de usurpar a herança em plena vida do Pai...
            Enfim, foi para recuperar tantos filhos únicos que, no alto do Calvário, o Pai entregou à morte o seu Filho Único, para que todos nós tivéssemos a vida. Negaríamos ao Pai a alegria de nossa volta?

Orai sem cessar: “Os filhos são herança do Senhor.” (Sl 127,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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