Filho
único... (Lc
7,11-17)

Ora, neste Evangelho cheio de
humanidade, nós vemos Jesus diante da mãe viúva que enterra seu filho único, tal
como ele estaria, em Betânia, diante da irmã que chorava a morte de Lázaro. Lá
como cá, Jesus se comove. Estou plenamente
convencido de que Jesus nem de longe pensa em dar sinais de sua divindade em um cortejo mortuário: apenas se deixa
“tocar” pela dor humana e, “movido de compaixão” [no grego original, esplagnísthe = revolvido até as
entranhas, até as vísceras!], faz aquilo que está ao seu alcance: chama o jovem
morto de volta aos braços da mãe.
Ademais, estamos aqui perante uma
situação extrema: a mãe é viúva (um dos preferidos do Senhor Yahweh, ao lado do
órfão e do estrangeiro!) e o filho é único. E disso Jesus entende: Ele também é
Filho único! Ele sabe o quanto significa para seu Pai celeste. Ele sabe do
imenso vazio que invadiria o coração do Pai se o Filho desaparecesse de seu
espaço amoroso. Por isso mesmo, Jesus faz o jovem regressar ao mundo dos vivos
e cumula de profunda alegria o coração da mãe.
Nós também somos filhos únicos...
Para Deus, cada um de nós é insubstituível. Se nos afastamos da casa do Pai,
ele sofre com nossa ausência. Se morremos pelo pecado, ele (sim, o próprio
Deus!) sofre com isso.
Não admira, pois, que Santo
Agostinho, no Sermão 98, comparasse a
Santa Igreja a esta pobre viúva que se alegra com a recuperação do filho. “A
mãe viúva se alegra com seu filho ressuscitado. A Mãe Igreja se alegra
diariamente com os homens que ressuscitam na sua alma. Aquele, morto quanto ao
corpo; estes, quanto ao seu espírito. Aquela morte visível chora-se
visivelmente; a morte invisível destes nem se chora nem se vê. Busca estes
mortos o que os conhece, o que os pode fazer regressar à vida.”
Deus é o Pai que acompanha a
errância dos filhos mortos pelo pecado. Como na parábola, estará em permanente
vigília, à espera do regresso do filho que partiu, depois de usurpar a herança
em plena vida do Pai...
Enfim, foi para recuperar tantos
filhos únicos que, no alto do Calvário, o Pai entregou à morte o seu Filho
Único, para que todos nós tivéssemos a vida. Negaríamos ao Pai a alegria de
nossa volta?
Orai sem cessar: “Os filhos são herança do
Senhor.” (Sl
127,2)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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