Aflitos,
à tua procura... (Lc
2,41-51)

Nas grandes festas do povo judeu,
Jerusalém podia abrigar 150 mil peregrinos. Alguns estudiosos chegam a elevar significativamente
este número. Um formigueiro humano, em área bem reduzida, onde uma criança
facilmente se perderia...
Da humilde Nazaré a Jerusalém, por
120 a 140km de estrada montanha acima, até as montanhas de Judá, a comitiva dos
peregrinos tinha os homens à sua frente; atrás, as mulheres e as crianças.
Jesus chegara à idade de celebrar sua cerimônia de maioridade, o Bar Mitzvah
(em hebraico, o “filho do preceito”), quando o adolescente, aos doze ou treze
anos, passava a ser responsável por seus próprios atos e assumia o direito de
proclamar a Palavra na sinagoga judaica.
Após a Páscoa, de volta a Nazaré,
Jesus não estava com as mulheres e Maria deve ter julgado que, agora “adulto”,
estaria com os homens adiante. Não estava. José, por sua vez, deve ter avaliado
que, mesmo após o seu Bar Mitzvah, o “garoto” estaria com os coleguinhas
lá entre as mulheres. Não estava...
Após um dia de caminho, quando os
casais se reuniram para a sopa, deram pela falta do Menino. Ah! A angústia de
refazer o caminho e buscar em vão pelo filho perdido, junto a parentes e
conhecidos, durante três dias, para, enfim, encontrá-lo no Templo, entre os
doutores da Lei, que se espantavam da incomum sabedoria de Jesus!
E a sentida queixa materna: “Meu
filho, que nos fizeste?! Teu pai e eu, ansiosos, à tua procura...” E a resposta
inesperada: “Não sabiam que eu devo cuidar da Casa de meu Pai?” Afinal, quantos
pais tinha esse Menino? Dois,
parece. Um pai (com minúscula) legal, nutrício, putativo: José. E outro Pai
(com maiúscula) divino, eterno, genitor. E este Pai tem claramente a
precedência. Dele o Filho provém e para Ele voltará, tão logo tenha cumprido a
sua missão terrena.
Também nossos filhos não nos
pertencem. Pertencem a Deus. Pertencem à missão que Deus traçou para eles.
Teremos, talvez, noites de angústia quando se perderem por seus caminhos. Mas
não podemos retê-los, quando chegar sua hora de partir, palmilhar sua própria
estrada, carregar sua cruz...
Nós também somos filhos. Deus está
todo o tempo à nossa procura. Quando permitiremos que ele nos encontre?
Orai sem cessar: “Senhor, como são amáveis as
vossas moradas!” (Sl
84,2)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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