quinta-feira, 6 de junho de 2013

PALAVRA DE VIDA

 De todo o teu coração... (Mc 12,28b-34)
            Até os anos 60, Belo Horizonte era uma cidade tranquila. Seus moradores ocupavam lotes amplos, à sombra de frondosas mangueiras. Quando o êxodo rural inchou a capital mineira, a ânsia de lucro levou muitos proprietários a construir numerosos barracos no fundo quintal, retalhando seu lote em pequenos compartimentos. Assim, perdeu-se a intimidade e a liberdade.
É comum que também o coração humano acabe dividido em vários compartimentos. Em vários cômodos. Mas Deus ali se sente in-cômodo, pois teria de dividir o mesmo espaço com muitos competidores: ídolos do dinheiro e do sexo, do poder e do sucesso, do trabalho e do lazer...
O Evangelho de hoje aponta em outra direção: Deus somente aceita morar ali onde ele é o único. O Absoluto. Por isso mesmo, a lei de Deus – uma lei que só fala em amar! – recusa todo tipo de competidor. O Senhor não aceita uma esposa infiel, amante de vários baalim (cf. Os 2,18-19), que reparta com eles a cama do Esposo!
De todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento, de todas as tuas forças: é assim a exigência do Deus-Amor! Nada de manter “áreas de reserva pessoal”, onde nós ainda nos permitimos pecadilhos de estimação, vícios caseiros, compensações de toda espécie. Aquilo que os terapeutas chamam de neurose. E o povo simples chama de “acender uma vela para Deus e outra para o diabo”...
“Holocaustos e sacrifícios” – isto é, atos e gestos rituais – só podem ter sentido se forem a expressão de um coração indiviso, onde Deus é tudo. Por isso, cresce aos nossos olhos a exigência de uma fé coerente, quando aquilo que vivemos corresponde de fato àquilo que dizemos crer.
E não se trata de “moralismo”, mas de viver no amor, centrando a própria vida em Deus e nele encontrando toda a razão de nossa existência. Nasce daí a possibilidade de uma hierarquia de valores, onde o amor eterno reduz à sua posição relativa todos os valores passageiros deste mundo.
Por outro lado, o próprio coração humano não é feliz quando se encontra dividido. As neuroses e os comportamentos reativos denunciam este mal-estar. Só um coração inteiramente mergulhado em Deus terá o dinamismo necessário para cumprir o 2º mandamento: amar o próximo como a si mesmo.
Meu coração está dividido? Sou inquilino de ídolos que estão competindo com o Deus-Amor?

Orai sem cessar: “Só em Deus repousa a minha alma.” (Sl 62,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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