A melhor parte... (Lc
10,38-42)
“Jesus
amava Marta e sua irmã e a Lázaro.” (Jo 11,5) “Amava” [hêgapa, no texto
grego] exprime o mais elevado nível de amor que se pode atingir. Não apenas uma
atração natural [eros], nem o apego entre parentes [stérguein],
nem mesmo a amizade por eleição [philia]. O verbo agapao supera
os demais níveis do amor, elevando-se ao estágio espiritual. É o verbo
empregado para falar do amor divino: “E tendo amado os seus que estavam no
mundo, [Jesus] amou-os [egápesen] até o fim”. (Jo 13,2)
Era
natural, pois, que a presença de Jesus em Betânia, onde costumava descansar
periodicamente, fosse recebida com as maiores manifestações de afeto. Existem,
porém diferentes maneiras de manifestar esse apreço e essa dileção. Marte foi
para a cozinha, pois a hospitalidade oriental assim lhe pedia. Maria ficou aos
pés de Jesus, pois assim lhe pedia a sede interior.
Alguma
delas merece reprimenda? Uma das duas está errada? Claro que não. Mas parece
que uma gradação até na maneira de acertar... Eis o comentário de Marko I.
Rupnik:
“Não
pode haver contraposição entre o serviço – oferecer o pão – e a escuta da
Palavra, ou seja, a oração. Trata-se, antes, de uma justa hierarquia entre as
duas coisas. Quando Cristo responde ao tentador, no deserto, diz, citando Dt
8,3, que não só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca
de Deus. Não diz que não se vive de pão, mas não se vive somente de pão.
Quando cura a menina de Jairo, ordena aos pais dar-lhe de comer (cf. Lc 8,55).
O que demonstra que a Palavra tem o primado, porque por meio dela tudo foi
criado, mas a Palavra inclui também o pão.
Por
essa razão, uma vez garantido o primado de Deus, todas as coisas encontram seu
lugar de modo orgânico, sem antagonismos nem dispersão. Justamente o episódio
de Marta e Maria, no Evangelho de Lucas, encontra-se depois do relato do bom
samaritano e pouco antes do ensinamento do pai-nosso. E logo depois do
pai-nosso temos a perícope do amigo importuno, que pede justamente comida.
Também
a partir dessa composição, é visível a ausência de qualquer contraposição entre
contemplação e ação, oração e serviço, mas a questão é a de amar a Deus com
todo o coração e ao próximo como a nós mesmos.”
E
aprendemos que muita agitação vale menos que uma só coisa...
Orai sem cessar: “Eu sou para o meu amado...” (Ct 6,3)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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