O último lugar... (Lc
14,1.7-14)
E como Jesus
gostava de sentar-se à mesa! Não foi à toa que o rotularam de comilão e
beberrão (cf. Mt 11,19). Até sua despedida foi celebrada em volta da mesa:
“Desejei ardentemente comer esta ceia pascal, antes de padecer!” (Lc 22,15)
No Evangelho
de hoje, Jesus nos aconselha a preferir o último lugar. Cabe, pois, a pergunta:
por que os convidados eram tão ansiosos por ocupar os primeiros lugares? É fácil
de explicar.
A “mesa” dos
banquetes daquela época era um conjunto de divãs dispostos em forma de “U”, com
as pessoas deitadas, apoiadas no cotovelo esquerdo. Os servos ou escravos
serviam os convivas pelo interior desse “U”, em cuja volta ficava o dono da
festa, ladeado pelos convidados de honra. Como o “serviço” começava por estes,
era comum que as bandejas chegassem vazias às extremidades da mesa. Claro,
ninguém desejava o último lugar. Questão de sobrevivência...
Algum
apressado arriscava-se a passar vergonha, se aparecesse um figurão e o dono da
casa decidisse alojá-lo no lugar que o outro ocupava, sendo “rebaixado” para a
ponta da mesa. Coisas da sociedade...
No
entanto, quando Jesus nos aconselha a ocupar o último lugar, deve estar fazendo
ironia conosco. Sabem por quê? Não é possível obedecer ao seu conselho: o
último lugar já tem dono. Ele mesmo, Jesus de Nazaré, apesar de ser homem e
Deus, já ocupou em definitivo o último lugar. Toda a sua vida o demonstra...
Seu
berço? Um cocho no curral. Sua maternidade? Uma gruta. Sua casa? As estradas da
Palestina. Seu travesseiro? Não tinha! (Cf. Mt 8,20) E para concluir, morre na
cruz, sofrendo uma pena que só se aplicava aos escravos e aos grandes
criminosos, proibida a um cidadão do Império Romano.
Sim,
nós sabemos que seus discípulos andaram discutindo, estrada a fora, sobre qual
deles seria o maior no Reino dos Céus. Parece que não somos muito diferentes...
Há sempre um “fiel” à procura de um tapete vermelho, de mais um microfone, de
mais divulgação de seu ministério, de mais aplausos para seu trabalho pastoral.
E o penúltimo lugar fica vazio...
Orai sem cessar: “Senhor, meu olhar não se ergue arrogante!” (Sl 131,1)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário