A casa de meu Pai... (Jo
2,13-22)
A palavra “casa” é uma nota musical rica de
harmônicos. Lembra o lar paterno, alude à Terra Prometida, recorda o Paraíso
Perdido, o próprio Planeta que nos foi dado como ninho. No caso de Jesus, as
ressonâncias são ainda mais fortes. Afinal, ao se encarnar, ele “saíra da Casa
do Pai”, vindo estender sua tenda entre os homens...
Um dia, reencontrado após três dias
de procura, o jovem Jesus interpela Maria e José: “Por que me procuráveis? Não
sabíeis que eu devo estar na Casa de meu Pai?” (Lc 2,49.) Ele se referia ao
Templo de Jerusalém, o único lugar da Terra onde Yahweh habitava, segundo a
mentalidade dos judeus. Por isso mesmo, todos os anos, atravessavam mares e
desertos para ali adorar o Senhor.
No Evangelho, Jesus chega ao Templo e
vê com desgosto que o pátio fora transformado em feira, onde vendiam os animais
a serem sacrificados como vítimas cultuais. O mesmo comércio aglomerava os
cambistas, que trocavam moedas para os fiéis provenientes do estrangeiro. Um
ambiente de ruídos, mau cheiro, cacofonia, movido por lucro e cobiça. Nada que
dirigisse os corações para o Pai celeste.
É quando se manifesta em Jesus o
“zelo pela Tua casa”. Com um chicote improvisado de cordas, enxota os animais e
derruba as bancadas dos cambistas, provocando revolta e contestações. Como
sinal de sua autoridade, Jesus fala de um “templo” (o seu próprio corpo), a ser
reconstruído (pela ressurreição) três dias após sua destruição (pela morte).
Sim, muito mais que no edifício do Templo, Deus habitava em Jesus Cristo. Hoje,
muito mais que em nossas igrejas, Deus habita no coração dos homens, na
menininha deficiente, no embrião que pretendem transformar em matéria-prima de
pesquisa genética.
A Igreja sabe disso. Daí sua firme
posição em defesa da vida. Pois de nada nos adianta adorar a Deus nos templos
de pedra, se não somos capazes de reconhecer sua presença em templos humanos...
Criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano não pode ser objeto de lucro
e de comércio. Seu coração é o verdadeiro templo onde Deus quer habitar. Já no
mundo neopagão, os homens são pesados e medidos. As mulheres têm um preço.
Órgãos para transplante são objeto de contrabando. Nada é sagrado.
E nós? Ainda somos sagrados para
Deus?
Orai sem
cessar: “Antes de
modelar-te no seio de tua mãe, eu te consagrei...” (Jr 1, 5)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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