E se pôs a segui-lo... (Lc 18,35-43)
O cego na beira da estrada. Toda uma
vida de humilhação e dependência. Seguramente, já ouvira falar daquele estranho
Rabi da Galileia que limpava os leprosos e animava os paralíticos. É quando
passa a multidão. Ouvindo o burburinho, o cego se informa e fica sabendo que
Jesus está passando. É hora de gritar...
Foi Santo Agostinho quem escreveu: “Timeo
Iesum praetereuntem et non redeuntem” – isto é, “temo a Jesus que passa e
não volta”. Temo perder a hora da graça. A oportunidade imperdível! Por isso
mesmo, o cego de Jericó ergue o seu berreiro: “Jesus, Filho de Davi, tem
piedade de mim!” Tentam fazê-lo calar, mas ele insiste. Até que Jesus para e o
atende. A uma palavra de Jesus, o cego recobra a vista. Louvando a Deus, ele se
põe a seguir Jesus. Em outros termos, torna-se seu discípulo.
Cabe aqui uma reflexão. Qual a
intenção profunda de nossas orações? Quando pedimos a Deus saúde e emprego,
dinheiro e cura das enfermidades, que é mesmo que estamos buscando? Pode ser
que estejamos apenas em busca de segurança material, sossego, alívio das dores.
Não é uma forma de egoísmo? O cego de Jericó podia ter obtido a visão de volta,
agradecia a Jesus e seguia sua estrada para cuidar da própria vida. Mas, não...
Ele se põe a seguir o médico que o havia curado. Só tem olhos para Jesus. Outra
vez, quando Jesus curou 10 leprosos, só um – o estrangeiro – voltou para dar
graças. Os outros estavam satisfeitos com a própria cura e nada mais queriam,
exceto o atestado de saúde a ser obtido com os sacerdotes do Templo. Egoístas,
não?
Se queremos cura para servir aos
irmãos, ótimo! Se queremos saúde para trabalhar pelo Reino, tudo bem! Mas se
queremos emprego só para ter dinheiro no banco, hum-hum... Se queremos passar
no vestibular só para “subir na vida”, sei não... Nossas intenções não são das
melhores...
É bem verdade que – como assevera o
povo simples – Deus não dá asa a cobra. Pode ser que nossas orações não sejam
ouvidas porque o bom Deus avalia nossas intenções e antevê que acabaríamos
prejudicados com aquilo que pedimos. Fechados em nosso pequeno mundo, teríamos
em mãos mais recursos para nossa perdição.
Se Deus atendesse às nossas preces,
nós o seguiríamos?
Orai sem
cessar: “Só uma coisa pedi ao Senhor: morar na casa do Senhor
todos os
dias de minha vida.” (Sl 27,4)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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