Pescadores de homens... (Mt 4,18-22)
Muitas vezes, quem andou pelas
estradas da vida um tanto alheio à voz de Deus e, inesperadamente, é envolvido
por sua luz, pode ter a ilusão de que sua vida pregressa foi tempo perdido. Não
foi. Nada se perde em nossa vida.
Vejam só o
caso do apóstolo André. Juntamente com Simão Pedro, seu irmão, passara longos
anos na rude faina de pescador. Sua velha barca, aquelas redes cansadas (cf. Mt
4,21), o Lago de Tiberíades tantas vezes sem peixes (cf. Lc 5,5; Jo 20,3), o risco
das tempestades (cf. Lc 8,23) – tudo lhe serviria de treinamento para a futura
missão.
De fato, de um pescador se exigem
virtudes muito especiais. Paciência, quando o peixe é arisco. Determinação,
para insistir na pesca. Coragem, para enfrentar os elementos. Fibra, para
suportar o sol, o vento, os insetos. Gente mole não costuma se dedicar à
pesca...
Ora, a futura tarefa de evangelizar
e “pescar homens” para Deus iria exigir de André e seus companheiros exatamente
aquelas virtudes. É que os homens podem ser mais ariscos que os peixes. Custam
a morder a isca. Preferem remexer no lodo do fundo. Preferem a vida errante,
sem compromissos. O evangelizador passará noites em claro, seguirá por rotas
perigosas e, não raro, voltará de mãos vazias. No caso de André, o Apóstolo não
se abalaria com nada disso. Afinal, já tinha experiência anterior. Estava
calejado, sem sonhos românticos e sem falsas ilusões...
Em nosso caso, trazemos a
experiência de família, da escola, do trabalho – e nada disso se perde quando
vem a hora de anunciar ao mundo o Evangelho de Jesus. Cada um com seu dom, eis
a Comunidade evangelizadora em sua missão. Porteiros e auxiliares da limpeza,
músicos e pregadores, administradores e conselheiros, todos somam habilidades e
serviços para o Reino de Deus. E quanto mais essa cooperação se efetivar no
amor, tanto mais farta será a pescaria, tanto mais fértil a colheita. E
poderemos voltar os olhos para o passado, mesmo ali onde abundou o pecado, e
dar a graças a Deus que nos chamou ao seu serviço.
Enfim, como escreveu Jean Vanier, o
fundador da Comunidade da Arca, “nós não somos chamados a fazer coisas
extraordinárias, e sim coisas ordinárias, porém, com um amor extraordinário”.
Orai sem
cessar: “Eis que vim para fazer a tua vontade.” (Hb 10,9)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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