quinta-feira, 24 de julho de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Os mistérios do Reino... (Mt 13,10-17)
            Este Evangelho incomoda muita gente, pois parece manifestar um tratamento “desigual” da parte de Deus para com os homens. Será que nosso Deus faz acepção de pessoas? Um comentário de Orígenes [+ 253 d.C.] pode nos ajudar:
            “Todos aqueles que vêem não são igualmente iluminados por Cristo, mas cada um o é na medida em que pode receber a luz. Os olhos de nosso corpo também não são igualmente aclarados pelo sol; quanto mais se sobe em lugares elevados, tanto mais se percebe seu brilho e calor. Assim também nosso espírito: quanto mais subir e elevar-se perto de Cristo, e oferecer-se de perto ao clarão de seu fulgor, mais magnífica e brilhantemente ele será também irradiado por sua luz, como diz o Senhor pelo profeta: ‘Aproximai-vos de mim, e eu me aproximarei de vós’ (Tg 4,8)
            Entretanto, não é do mesmo modo que vamos a ele, mas cada um vai segundo suas próprias possibilidades. Ou antes, na verdade, é com as multidões que vamos a ele, e ele nos restaura ‘em parábolas’ para que não desfaleçamos em jejum pelos caminhos; ou ainda, sempre e sem cessar, nós permanecemos ‘a seus pés’, preocupados apenas em ouvir suas palavras, sem jamais nos deixarmos perturbar pelos ‘múltiplos cuidados do serviço’, mas escolhendo a melhor parte que ‘não nos será tirada’ (Lc 10,42).
            E sem duvida alguma, aqueles que assim se aproximam dele recebem bem mais a sua luz. Se, porém, como os apóstolos, sem jamais nos afastarmos, por pouco que seja, permaneceremos sempre com ele ‘em todas as suas tribulações’ (Lc 22,28). Então, ele nos explica em segredo aquilo que havia dito às multidões e nos esclarece, e é com mais claridade ainda que ele nos ilumina.
            Enfim, se alguém se acha capaz de subir com ele até a montanha, como Pedro, Tiago e João, será não somente iluminado pela luz de Cristo, mas pela voz do próprio Pai.”
            A montanha está bem à nossa frente. Podemos juntar-nos aos três apóstolos na escalada espiritual. Lá em cima, espera por nós a própria Luz incriada, o Cristo transfigurado.
            Se, entretanto, eu preferir a horizontal da planície morna, dos pântanos sombrios, da rotina paralisante, já não terei direito de acusar meu Deus de desigualdade no trato com os homens ou de nos falar por enigmas...
Orai sem cessar: “Tenho os olhos fixos no Senhor!” (Sl 25,15)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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