segunda-feira, 11 de agosto de 2014

PALAVRA DE VIDA

 Nas mãos dos homens... (Mt 17,22-27)

            
Os teólogos mais recentes, explorando um veio paulino, não se cansam de realçar a “descida” do Filho de Deus, seu despojamento (sua kênosis). Na verdade, trata-se de algo que ultrapassa nossa capacidade de compreensão: Deus se faz homem. O eterno se submete ao ciclo temporal. O Infinito se deixa conter no seio da Mulher. O Imortal se entrega à morte.
            Neste Evangelho, ao anunciar pela segunda vez a sua Paixão e Morte, Jesus frisa que tal “entrega” se faz “nas mãos dos homens”. Logo ele, o Filho de Deus, que prefere apresentar-se como o Filho do Homem! O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Trindade, abre mão, por um tempo, da glória, do poder e da alegria de ser Deus, assumindo uma natureza humana igual à nossa em tudo, exceto o pecado. Trata-se de um “presente”, um dom do Pai à Humanidade, tendo como resposta uma terrível rejeição. Como registra o Evangelho de São João, “Ele veio para o que era seu, e os seus não o acolheram”. (Jo 1,11.)
            Se contemplamos a Paixão de Cristo, vemos como Ele “rolou de mão em mão”, de Herodes a Pilatos, dos algozes aos carrascos, com as vaias da turba e a zombaria dos soldados. Em todos estes casos, mãos humanas. Humanas como as nossas, que também pecamos e, de certo modo, confirmamos a morte do Senhor.
            É bem verdade que Jesus passou por outras mãos. As mãos santas de Maria, que o acariciaram. As mãos firmes de José, que ajudaram o Menino a andar. As mãos impuras da hemorroíssa, que tocaram a franja de seu manto, obtendo a cura de sua enfermidade crônica. As mãos prestativas de Marta, que lhe preparavam a refeição. As mãos compassivas do Cireneu, que sustentaram parte do peso da cruz. As mãos amigas de Nicodemos, que embalsamaram o corpo de Jesus em mirra e aloés. As mãos trêmulas de Tomé, que lhe tocaram as feridas.
            Seremos ainda capazes de admiração e espanto diante de um Deus que se entrega nas mãos de homens? Caso positivo, olhemos para o altar: ali – em cada missa – Jesus Cristo se entrega de novo. Sob as humildes aparências do Pão, é o mesmo Corpo que se entrega. Na figura sensível do Vinho, é o mesmo Sangue que se derrama.
            E nós? Quando nos entregaremos nas mãos de Deus?

Orai sem cessar: “Terei confiança no Senhor!” (Is 8,17)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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