Servo
perverso! (Mt 18,21 - 19,1)
É
um duro adjetivo: PERVERSO. Etimologicamente, diz respeito àquele que se
desviou por completo do bem, do bom caminho. Criado para o bem, o homem que
escolhe o mal experimenta uma per-versão.
Nós
estamos acostumados a pensar em perversão como algo muito grave, desde a
antropofagia até o incesto e a pedofilia. Em todo caso, trata-se de algo que
vai contra a própria natureza da pessoa humana. Ora, no Evangelho de hoje,
“perverso” é, simplesmente, aquele que se recusa a perdoar...
Poderíamos
até considerar que a natureza humana foi criada para viver e experimentar o
amor. E isto basta para se avaliar como “perversão” todo tipo de ódio (em seus
vários níveis, como os silêncios e antipatias, a formação de partidos e os
ressentimentos, os rancores e as agressões, as vinganças e o homicídio).
Mas
há um aspecto ainda mais exigente. Assim como o servo que foi perdoado por seu
senhor passou a ser, desde então, “devedor” do perdão recebido, também nós,
pobres pecadores, fomos perdoados por Deus, que nos entregou seu Filho único no
Calvário. Ao descer da montanha, na qualidade de devedores de uma dívida
impagável (“Por um grande preço fostes comprados”... 1Cor 6,20), já não temos
nenhum direito de cobrar as dívidas de nossos irmãos. Como iríamos nós contar
com a misericórdia de Deus, se somos mesquinhos para com nosso irmão que errou
contra nós?
Na
parábola de Jesus, o servo perdoado, que acaba de ser alvo de imensa compaixão,
não demonstra para com seu companheiro de trabalho a mesma piedade de seu
Senhor. Por isso mesmo, merecerá o terrível adjetivo: servo PERVERSO! E, ao
cobrar uma dívida ínfima, insignificante, o infeliz acaba por perder o infinito
perdão que havia recebido, sem nenhum mérito de sua parte.
Além
de perverso, estúpido! Não percebe que o ódio se volta contra o próprio
cobrador. Não vê que a falta de perdão é causa de inúmeras doenças do corpo e
da alma. Não vê que, ao negar o perdão, assina a sua própria condenação...
E
nós? Que tipo de servo nós somos? Perdoamos ou cobramos? Até quando
insistiremos em guardar as velhas faturas, duplicatas bolorentas, que fermentam
o mal e a morte em nosso coração?
Orai sem cessar: “É eterna a misericórdia do
Senhor...” (Salmo
103,17)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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