Que
me falta ainda? (Mt
19,16-22)
Eis
a pergunta que o “jovem rico” fez a Jesus. É uma pergunta sincera, que brota do
fundo do ser. E não se trata de um tipo qualquer, mas de um jovem fiel à Lei de
Deus, cumpridor dos mandamentos do Sinai “desde a minha juventude” (cf. Mc
10,20).
Não
é pouca coisa! Não são muitos que podem apresentar-se diante do Senhor com
semelhante atestado de fidelidade. Eu não poderia... E tanto é verdade o que o
jovem diz, que “Jesus, depois de fitá-lo, o ama” (cf. Mc 10,21).
Que
daria o Senhor a um jovem que ele ama? Mais terras e rebanhos? Mais poder sobre
o grupo social? Maiores dons espirituais? Que fará o Mestre para pacificar essa
angústia interior?
Sim,
o jovem que chegou correndo (cf. Mc 10,17) não está em paz. Cumpre a Lei. Toda
a Lei. Todos os preceitos e mandamentos, mas algo lhe diz que não é tudo: “Que
me falta ainda?” (Mt 19,20) Qual será o verme que rói um coração tão puro?
Bem,
talvez não seja tão puro quanto parece... Ele não rouba nem mata. Ele honra pai
e mãe. Ele não cobiça os bens e a mulher do próximo. Ele não presta testemunho
falso. Mas...
Sim...
Mas... E é nesse espaço ambíguo do coração humano que Jesus fixa seu olhar e
percebe o apego à matéria, o apoio no dinheiro, a escravidão das coisas. E como
Jesus o ama, não lhe dará nada mais. Ao contrário, vai propor que o jovem
aceite perder. Abrir as mãos. Desvencilhar-se... para ser livre!
E
aqui temos a resposta para quem fez a pergunta: “Que te falta ainda? Ora, falta
ser livre. Livre para amar. Livre para seguir o caminho do Mestre sem perder
tempo ponderando lucros e perdas, vantagens e prejuízos, conveniências e
dificuldades... Sim, o jovem fez meia volta e se afastou. Mas sabia que tinha
sido incapaz de escolher a melhor opção: “foi embora cheio de tristeza”.
Ouso
dizer ao leitor que a história não acaba aqui, mesmo que o Evangelho se cale a
esse respeito. Aposto que aquele breve encontro com Jesus transtornou a vida do
jovem. Doravante, a contemplação das terras e rebanhos só lhe dava tristeza:
eram eles as barreiras que o impediam de seguir o Mestre.
Não
me espantaria se um anjo inconfidente me contasse que o rapaz acabou vendendo
tudo, distribuindo aos pobres para – livre – seguir o Mestre.
Que
faria você?
Orai sem cessar: “Senhor,
a minha alma te segue de perto!”
(Sl 63,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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