Perdoa-lhe! (Lc
17,1-6)
Este
Evangelho nos apresenta um dos incômodos imperativos de Jesus: perdoar a quem
nos pede perdão. No Pai-Nosso, a única oração que o Mestre nos ensinou, ficou
registrada a condição para sermos perdoados de nossos pecados: perdoar
igualmente quem pecou contra nós.
Quem
comenta esta passagem é Anthony Bloom, metropolita do Patriarcado de Moscou:
“Não
é que Deus não nos queira perdoar, mas se nós recusamos o perdão, colocamos em
xeque o mistério do amor, nós o recusamos e já não há no Reino um lugar para
nós. Não podemos ir adiante se não somos perdoados, e não podemos ser perdoados
enquanto não perdoamos a todos que nos fizeram mal.
Isto
está perfeitamente claro, límpido e preciso, e ninguém pode imaginar que está
no Reino de Deus, a ele pertencer, se permanece em seu coração a recusa de
perdoar. Perdoar a seus inimigos é a primeira característica do cristão, a mais
elementar. Se falhamos nisso, não somos absolutamente cristãos e ainda estamos
errantes no ardente deserto do Sinai.
Perdoar,
porém, é algo extremamente difícil. Seria relativamente fácil conceder o perdão
em um momento em que sentimos o coração pleno de mansidão ou num impulso de
afetividade. Mas pouquíssima gente sabe como fazer para não o tomar de volta.
De fato, o que chamamos de perdão consiste muitas vezes em pôr o outro à prova,
nada mais que isso. Esperamos com impaciência os testemunhos do arrependimento,
queremos estar seguros de que o penitente não é mais o mesmo, mas esta situação
pode durar uma vida inteira, e nossa atitude é absolutamente contrária a tudo
aquilo que o Evangelho ensina e, na verdade, tudo o que ele nos ordena.
A
lei do perdão não é um estreito riacho na fronteira entre a escravidão e a
liberdade; ela é larga e profunda: é o Mar Vermelho. Os hebreus não o
atravessaram graças a seus próprios esforços, em barcos feitos pela mão do
homem. O Mar Vermelho se abriu pelo poder de Deus. Foi preciso que Deus os
ajudasse a atravessar. Mas, para ser conduzido por Deus, devemos comungar desta
qualidade de Deus que é a capacidade de perdoar.”
Todos
sonham com um mundo fraterno e pacificado, muitos invocam a pomba da paz, mas
não são tão numerosos os que renovam, dia após dia, a decisão de perdoar os
agressores. Não um perdão ocasional, mas perdoar setenta vezes sete, isto é,
sempre. Sem esse perdão, a paz permanecerá uma utopia inatingível...
Orai sem cessar: “O Senhor vai nos perdoar de
novo.” (Mq 7,19)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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