O zelo por tua casa... (Jo 2,13-22)
Hoje
a Igreja celebra a festa da dedicação da Catedral de Latrão, que data do ano
324 d.C. e é considerada a “mãe” de todos os templos cristãos. Certamente para
acentuar o aspecto sagrado dos edifícios dedicados a Deus, a Liturgia nos traz
a narrativa evangélica da “limpeza” realizada por Jesus no Templo de Jerusalém.
No
tempo de Jesus, com a dominação romana e o fim da realeza davídica, a prática
da religião judaica estava nitidamente concentrada no espaço do Templo de
Jerusalém. Os judeus fiéis visitavam o Templo ao menos uma vez por ano. Ali
eram oferecidas em sacrifício as vítimas animais do culto mosaico. Mas logo o
espaço sagrado foi invadido pelos comerciantes que, aliados aos interesses
mercantis dos líderes religiosos, mudaram a casa de Deus em mercado.
O
santuário tornara-se uma fonte de altos lucros para as famílias sacerdotais da
Antiga Aliança. Bois e ovelhas vendidos para os sacrifícios custavam muito
caro, e todo o comércio era feito exclusivamente com a moeda do Templo. O culto
ao Senhor Yahweh cedia lugar ao culto
a Mammon, o dinheiro deificado.
Em lugar de
um ambiente de oração e louvor, o incenso e o silêncio foram substituídos pelo
balido dos animais e pelo cheiro acre de sangue e estrume. Daí a inesperada
reação de Jesus, habitualmente manso e humilde, improvisando um chicote de
cordas para expulsar os animais do recinto consagrado ao Senhor Yahweh.
O
teólogo Hans Urs Von Balthasar realça o fato de que o velho Templo – edificado
em pedras monumentais – estava pronto para ser destruído e definitivamente
substituído pelo novo “Templo de Deus”, o Corpo do Filho de Deus. Quando Jesus
afirma que o Templo podia ser destruído e ele o reergueria em três dias,
referia-se a seu próprio corpo (cf. Jo 2,19-21). Dali em diante, era EM Cristo
que o Altíssimo receberia o culto de finitivo da Nova e Eterna Aliança.
Com
seu gesto profético, Jesus anuncia o fim do antigo culto e a chegada dos tempos
messiânicos. Como o profeta Zacarias anunciara previamente, “naquele dia não
haverá mais comerciantes dentro da Casa do Senhor dos exércitos”. (Zc 14,21)
Desde
nosso batismo, nós somos templos do Espírito de Deus, que habita em nós. É no
território sagrado de nosso coração que Deus espera pelo encontro pessoal. Se é
possível encontrá-lo no templo da Criação, adornado de sóis e de estrelas, ou
ainda na cela nua do monge, é acima de tudo em nosso quarto interior que Deus
espera por nosso culto espiritual.
Orai sem cessar: “Meu coração está pronto, ó Deus!”
(Sl 57,8)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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