Deus conhece os vossos corações... (Lc 16,9-15)
“Quem
vê cara, não vê coração.” O exterior e o interior. E muitas vezes um desmente o
outro. Não podemos viver de aparências, pois, como diz o poeta, “muita gente
existe / cuja ventura única consiste / em parecer aos outros venturosa”.
Só
Deus conhece o coração humano. Quando Jesus chama os fariseus de “hipócritas”,
vergasta o pecado de simular a fachada de religiosidade quando o íntimo cheira
mal, comparado a “sepulcros caiados”. (Mt 23,27.) Como aproximar nosso interior
do exterior? Pelo exame de consciência seguido da confissão individual,
auricular. Diante de Jesus – na pessoa do sacerdote – reconhecemos os pecados,
nossos desvios do caminho do amor. E nossa miséria faz cócegas na misericórdia
de Deus. Perdoados, já não precisamos fingir...
Daí, o mal
feito nas “confissões comunitárias”, a distribuir absolvição coletiva sem a
prévia (e canônica) acusação individual dos pecados. Nos encontros de
aconselhamento, pergunto a fiéis que passam tempos sem a confissão individual:
“Você se sente, de fato, perdoado, com a confissão comunitária?” E a resposta é
acompanhada de um risinho maroto: “Não...”
Tanto
o Código de Direito Canônico quanto a Exortação Apostólica “Reconciliação e
Penitência”, de João Paulo II, deixam claro que a confissão comunitária é
para situações excepcionais, entre as quais não se inclui o afluxo de numerosos
penitentes. O simples fato de serem realizadas a intervalos regulares aponta
sua ilegitimidade. Fica também estabelecido que o Bispo que autoriza tais
confissões “onera gravemente a sua consciência”.
Confissão
comunitária leva ao progressivo relaxamento da consciência. Não deve substituir
a confissão auricular, pois favorece a via ambígua de manter um estado interior
que não corresponde aos sinais exteriores. A reconciliação exige a presença do
outro, pois todo pecado se irradia sobre a família, a Igreja, a humanidade. Não há pecado apenas individual. Por isso,
nos confessamos a alguém.
Ainda que
seja possível um ato de contrição perfeita, no silêncio do quarto, não é a via
eclesial. Os exemplos bíblicos (Davi diante de Natan / a adúltera perante Jesus
/ o filho pródigo aos pés do Pai) confirmam esta verdade. E quando S. Tiago
fala em reconciliação, dá-nos o “modo de usar”: “Confessai vossos pecados uns
aos outros e rezai uns pelos outros, a fim de serdes curados.” (Tg 5,16.) A
pretensão de obter via direta o perdão divino pode ocultar movimentos de
soberba, e a falta de sincero arrependimento.
Orai sem cessar: “Pequei contra ti!” (Sl 51,6)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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