Jesus foi batizado... (Mc 1,7-11)
Nas águas
claras do Rio Jordão, o Filho amado. Da nuvem celeste, ouve-se a voz do Pai. Na
imagem visível de uma pomba, desce o Espírito Santo. Assim, o batismo de Jesus
– um batismo de penitência proposto por João Batista – é claramente uma
experiência trinitária, uma teofania. Creio não exagerar se afirmo que a
consciência da Trindade se encontra amortecida no coração e na mente dos fiéis,
reduzida a uma espécie de fábula que se conta às crianças do catecismo...
No entanto,
estamos diante de um esplêndido mistério: um Deus em três Pessoas, cuja
presença atravessa toda a nossa vida. Cromácio de Aquileia [388-408 d.C.]
reflete sobre este batismo:
“Que grande
mistério neste batismo celeste! Dos céus, o Pai se faz ouvir, o Filho aparece
sobre a terra, o Espírito Santo se mostra sob a forma de uma pomba. De fato,
não há verdadeiro batismo, nem verdadeira remissão dos pecados ali onde não
está a verdade da Trindade, e a remissão dos pecados não pode ocorrer onde não
se crê na Trindade perfeita.
O batismo
que a Igreja dá é o único e o verdadeiro; e só é dado uma única vez. Basta que
alguém ali mergulhe uma só vez, ei-lo puro e renovado; puro porque se
desembaraçou da sujeira dos pecados, renovado porque ressuscita para uma vida
nova, depois de se ter desembaraçado da velhice do pecado. É que este banho do
batismo torna o homem mais branco que a neve, não na pele de seu corpo, mas no
esplendor de seu espírito e na pureza de sua alma.”
De fato,
Jesus havia alertado a Nicodemos sobre a necessidade desse renascimento
espiritual: “Se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no
Reino dos Céus”. (Jo 3,5) Trata-se de uma condição sine qua non para deixar o reino das trevas e passar ao reino da
luz.
Cromácio
prossegue em sua catequese: “Tendo vindo dar um novo batismo, para a salvação
do gênero humano e a remissão dos pecados, Jesus se dignou primeiramente de
receber ele mesmo o batismo, não para ficar livre de seus pecados - ele, que
não os havia cometido -, mas para santificar as águas do batismo com o fim de
apagar os pecados de todos os crentes pelo novo nascimento do batismo”.
E o Bispo de
Aquileia conclui, usando o método alegórico dos Padres da Igreja: “Outrora, a
graça do batismo de Jesus foi misticamente prefigurada quando o povo eleito, ao
passar pelo Jordão, foi introduzido na terra prometida. Do mesmo modo que, à
frente do povo eleito que seguia o Senhor, abriu-se uma estrada para
introduzi-lo no país da promessa, assim agora, pelas águas do mesmo rio, abre-se
a primeira estrada que nos conduz à bem-aventurada terra prometida, isto é, o
Reino celeste que nos foi prometido”.
Orai sem cessar: “Haverá vida aonde quer que o rio chegue...” (Ez
47,9b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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