Os espíritos impuros lhe obedecem... (Mc 1,21b-28)
Desde o Séc.
XVIII, a onda racionalista inundou o mundo neopagão e chegou a infiltrar-se na
própria Igreja. Aqui e ali, vozes dissonantes negam a existência de seres
espirituais, como anjos e demônios. Membros da hierarquia se intimidam perante
as teses de teólogos afastados da legítima Tradição bíblica e eclesial. E, no
entanto, os demônios resistem...
Não no
Evangelho, pois a simples presença do Filho de Deus os punha em debandada,
retorcendo os possessos e invadindo os porcos (cf. Mc 1,26; 5,12-13). E Jesus –
o mesmo que enfrentara tríplice combate espiritual no deserto (cf. Mc 1,12ss) –
tem consciência de que esses adversários são realidades e sua derrota é sinal
da chegada do Reino: “Se eu expulso [demônios] pelo Espírito de Deus, é porque
já chegou até vós o Reino de Deus”. (Mt 12,28)
Neste
Evangelho, a admiração geral é despertada exatamente pelo poder demonstrado
pelo Filho do Carpinteiro sobre os espíritos impuros que se manifestavam no
meio do povo escolhido na forma de possessões (cf. Lc 8,27), males físicos (cf.
Mt 12,22) e espirituais (cf. Jo 13,27).
Macário do
Egito [ca. 300-391 d.C.], monge e eremita, apelidado a “Luz do Deserto”, comenta
o poder libertador de Jesus Cristo, posto à disposição dos homens: “Que ninguém
diga: ‘para mim, é impossível amar o Bem único, pensar nele ou nele crer, pois
me encontro sob a escravidão e as cadeias do pecado’. De fato, o poder de
exercitar perfeitamente as obras da vida, de te arrancar do pecado que em ti
habita (cf. Rm 7,17) e libertar-te por tuas próprias forças, isto não está em
teu poder, pois o Senhor o reservou para si. Só ele tira o pecado do mundo (cf.
Jo 1,29), foi ele quem prometeu libertar da escravidão do pecado e das paixões
aqueles que o amam e nele creem; e aqueles que o Senhor liberta são
verdadeiramente livres”.
“Mas
refletir, crer, amar o Senhor ou procurá-lo – diz Macário – isto depende de ti,
e disso és capaz, assim como não entrar em acordo com o pecado que habita em
ti, nem com ele colaborar. Torna-te apenas tu mesmo a ocasião de tua própria
vida, buscando o Senhor, pensando nele, amando-o e obedecendo-lhe, e ele te
concederá a força e a libertação. É apenas isto que ele espera de ti.”
Basta ver o
noticiário da TV para perceber a atuação abertamente escandalosa dos espíritos
do mal, levando seus escravos a cometer os crimes mais degradantes para a
condição humana. Para Macário, “a alma que caiu sob a escravidão e a autoridade
da treva das paixões do pecado é oprimida pela febre da lei do pecado; ela é
imobilizada e inibida em relação às obras da vida, as virtudes perfeitas do
Espírito Santo, pois ela é incapaz de cumpri-las de modo irreprochável; mas
nada a impede de clamar pelo único médico, chamá-lo a seu socorro e recuperar a
saúde. Dos homens, Deus só espera esta ocasião...”
Orai sem cessar: “Senhor, tu és meu
auxílio e meu libertador!” (Sl 70,6b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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