Vinho novo, odres novos... (Mc 2,18-22)
A pessoa
humana pode ser comparada a um odre: uma espécie de cantil ou reservatório a
ser preenchido. Os odres dos orientais eram feitos com a pele de um pequeno
animal, depois de limpa e virada do avesso. Naturalmente, um odre novo conserva
a elasticidade da pele e tem mais resistência que um odre velho, de pele já
ressequida pelo tempo e tornada rígida pelo uso diário.
A graça de Deus e as moções do
Espírito Santo bem podem ser comparadas ao vinho. Tal como a bebida, os
impulsos do Espírito trazem alegria e animação, acabam com o desânimo e a
timidez. Durante o período de fermentação, o vinho novo produz gases,
movimenta-se em seu recipiente.
Quando Jesus começou a ensinar no meio
judaico, tão apegado à Lei Antiga, muitas de suas lições pareciam vinho novo,
borbulhante, e eram vistas como ameaça para a morna estabilidade do sistema
religioso de seu tempo. Os homens do Templo, sacerdotes e doutores da Lei,
temiam por sua implosão.
Hoje também, podemos estar acostumados
a um tipo de prática religiosa (novenas, procissões, ladainhas, devoções
particulares) e manifestar estranheza diante de alguma “novidade” do Espírito
de Deus (orações espontâneas, palmas acompanhando os cânticos, repouso no
Espírito ou compromisso político). Especialmente os que se veem como
“renovados” devem ter caridade suficiente para aceitar que os irmãos de fé se
sintam ameaçados pelo vinho novo, procurando entender sua fixação nas antigas
fórmulas.
Por outro lado, os fiéis mais
tradicionalistas correm o permanente risco de não acolher autênticas
inspirações do Espírito Santo, que sempre sopra onde quer e se manifesta de
modo multiforme em lugares e épocas diferentes. O essencial é distinguir entre
“formatos” de valor acessório, que mudam naturalmente com o passar dos anos, e
a “substância” da fé, esta, sim, essencial.
Rezar em latim ou português não deve
ser motivo de inquietação nem de divisões. O importante é rezar. Bater palmas,
ou não, durante os cânticos, é um detalhe de pouco significado. O importante é
cantar. Mas o conteúdo de nossa fé – como está registrado no “Símbolo dos
Apóstolos” – exige de todos nós a mais perfeita unidade. Uma falha neste ponto
levaria à divisão e aos cismas.
A lição de
Jesus é que a pessoa deve experimentar pessoalmente uma renovação interior
antes que tentem forçá-la a recolher o vinho borbulhante do Espírito Santo. Do
contrário, o remendo (de linho cru, pano não encolhido) acabará por tornar
ainda maior o rasgão do velho tecido. Prudência, pois...
Orai sem cessar: “Ó Deus, enraíza em mim um espírito novo!” (Sl 51,12)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário