Nem
dinheiro na cintura... (Mc 6,7-13)
Um aviso prévio: os homens práticos
e pragmáticos ficam dispensados desta humilde reflexão. Não é para eles. Os
pragmáticos não se preocupam tanto com os objetivos, mas com os meios. Não
tanto com o “quê fazer”, mas “como fazer”. E – claro! - para fazer qualquer
coisa, precisamos de... DINHEIRO!!!
Ora, no Evangelho de hoje, quando
Jesus envia seus Doze Apóstolos em missão (uma espécie de “estágio
supervisionado” ?), encarregados de expulsar demônios, curar os doentes e
anunciar a chegada do Reino de Deus, a única advertência prática que receberam foi
a respeito da vida simples e sóbria. Não levem pão. A Providência proverá a
comida no caminho. Não levem sacola com os apetrechos de viajante. Será peso
morto. Não levem dinheiro. Vivam como quem depende...
E aí está a essência do ensinamento
do Mestre Jesus: o missionário deposita sua confiança apenas em Deus. Não
confia em seus recursos pessoais, sejam eles a ilustração intelectual, os dotes
da oratória ou os “meios” que os pagãos utilizam para realizar seus projetos: a
amizade dos poderosos, as verbas estatais, a técnica moderna ou, acima de todos
os ídolos, o dinheiro.
Sim, eu sei que estes “meios” podem
simplificar ou facilitar os trabalhos humanos, mas complicam a vida de quem se
serve deles. E o técnico acaba escravo de sua técnica. O possuidor passa a
servo da coisa possuída. E logo precisamos de barreiras, cercas eletrificadas,
cães ferozes para proteger as coisas que acumulamos, ainda que o tenhamos feito
em nome da missão.
Como iriam esses missionários
anunciar um novo Reino se continuassem a ser regidos pelos mesmos “poderes” do
mundo pagão? Por que será tão difícil perceber que pobreza, castidade e
obediência são os sinais do novo Reino?
Ao enviar seus Apóstolos, Jesus
pensa em gente “livre”. Escravos não podem anunciar a liberdade da Boa Nova.
Logo estarão comprometidos com a gente dos palácios e acharão incômoda a
aproximação do povo simples. E se o leitor já está pensando em Francisco de
Assis, parabéns! Leitor inteligente!
Na sua origem, os Institutos
religiosos foram todos pobres. Seus membros eram pobres, felizes e eficientes
em sua missão. Com o tempo, as doações dos fiéis e o fruto do próprio trabalho,
acabaram acumulando trastes à sua volta: terras, prédios, bibliotecas,
ostensórios de ouro com pedrarias cravejadas. Sem o querer, gastam todo o seu
tempo a administrar esses bens. Sem o notar, tornaram-se ricos e... precisaram
construir muros e defesas.
Não me espantaria se, agora,
tivessem medo dos pobres...
Orai sem cessar: “Sou pobre e necessitado, mas
o Senhor pensa em mim!” (Sl 40,18)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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