Setenta vezes sete! (Mt 18,21-35)
Não é simples questão de aritmética!
Na mentalidade dos hebreus, 70 x 7 é igual a “sempre”! Jesus usa da expressão
numérica para responder a uma pergunta de Simão Pedro a respeito do número de
oportunidades que devemos dar a quem nos ofende, ainda que reincidente.
Sem dúvida, podemos entender sua
resposta no sentido de que o perdão, para o discípulo de Jesus, não é uma
questão pontual, ligada a certo número de situações e acontecimentos, gestos e
atitudes, algo que se pudesse “contabilizar”. Assim como acontece quando alguém
diz: “Veja lá... É a terceira vez que vou desculpar você... Mas não me caia
noutra!”
70 x 7 – mais que uma operação
contábil – aponta para uma característica (devo dizer “exclusividade” ?) do
fiel cristão: para nós, que tentamos viver na prática o Evangelho de Jesus, o
perdão é acima de tudo um estado de espírito, um estilo de vida, um critério de
agir que antecede as situações em que deverá ser atualizado. Em outros termos,
nós decidimos antecipadamente que, quando vier a ocasião de uma ferida
recebida, uma injúria sofrida, iremos perdoar seja lá a quem for...
Alguém dirá que nossa sociedade não
é assim. Antes, nossa tendência é exatamente contabilizar as coisas naquele
livro preto com três colunas (deve / haver / saldo) e, dia a dia, fazer
“acertos de conta”. Alguém dirá que esse ideal do perdão incondicional está
além de nossas forças. Alguém dirá que esse critério acaba por formar irresponsáveis
e até estimular novas ofensas.
Se essas pessoas têm razão em sua
filosofia, então Jesus morreu em vão... Naquela áspera cruz – onde ele pedia ao
Pai que perdoasse aos seus algozes... – Jesus pagou todas as nossas contas,
aboliu o documento de acusação que era erguido contra nós (Cl 2,13-14), apagou
nossos crimes e pecados. Devedores perdoados, com que direito iríamos nós
cobrar de nossos irmãos? (Mt 18,33)
Quanto sofrimento será evitado à
nossa volta se, apoiados na graça de Deus, decidirmos perdoar aqueles que nos
ofenderam! Quantas reconciliações, quantas feridas curadas, quantas mortes
evitadas! Quantas oportunidades de recomeço oferecidas a quem se deixou enganar
pelo pecado!
E mais! Se exercitamos
continuadamente o perdão, até podemos rezar a belíssima oração que Jesus nos
ensinou: “Pai, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos
tem ofendido...”
Orai sem cessar: “Ao Senhor pertencem a
misericórdia e o perdão!” (Dn
9,9)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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