Amarás o Senhor, teu Deus! (Mc 12,28b-34)
Até os poetas sabem que é vão falar
de amor. Na tentativa de defini-lo, as palavras se mostram ocas, chochas,
vazias de sentido. Até nosso amor a Deus se transforma pobremente em oração.
Rezemos, pois, com Santo Agostinho, uma prece de suas “Confissões”:
“O que não deixa dúvida, Senhor, e é
uma certeza e minha consciência, é que eu te amo.
Tocaste meu coração com tua palavra
e eu te amei.
Ademais, o céu e a terra e tudo o
que neles existe, ei-los por toda parte a me dizerem para te amar; e eles não
cessam de dizê-lo a todos os homens, a fim de que não tenham desculpa.
Mas o que é que eu amo, quando te
amo? Não é a beleza de um corpo, nem seu encanto passageiro, nem a claridade da
luz que meus pobres olhos tanto amam, nem as doces melodias das variadas
cantilenas, nem a suave fragrância das flores, perfumes, aromas, nem o maná,
nem o mel, nem os membros acolhedores aos abraços da carne.
Não, não é isto que eu amo, quando
amo meu Deus.
No entanto, eu amo uma claridade,
uma voz, um perfume, um alimento, um abraço, quando eu amo meu Deus.
É a claridade, a voz, o perfume, o
abraço do homem interior que há em mim. Ali onde brilha para minha alma uma
claridade que o espaço não segura, onde canta uma melodia que o tempo não
carrega, onde exala um perfume que o vento não dissipa, onde se saboreia um
prato que a voracidade não torna insípido, onde se prende um abraço que nenhuma
saciedade desmancha. É isto que eu amo, quando amo meu Deus.
Mas, afinal, quem é esse Deus?
Eu interroguei a terra e ela me
disse: ‘Não sou eu!’ E tudo o que existe nela me fez a mesma confissão.
Interroguei o mar e seus abismos,
os seres vivos que ali se movem, e eles me responderam: ‘Não somos o teu Deus;
busca-o acima de nós’.
Interroguei o céu, o sol, a luz e
as estrelas, e todos me disseram: ‘Nem nós, não somos o Deus que tu procuras!’
E eu disse a todos os seres que
assaltam as portas de meus sentidos: ‘Falai-me de Deus, já que não o sois!
Dizei-me alguma coisa dele!’
E eles gritaram com voz poderosa:
‘Foi ele quem nos criou’.
Para os interrogar, eu tinha apenas
de contemplá-los, e sua resposta era sua beleza.
Ó minha alma, é isto que te digo:
teu Deus é para ti a vida de tua vida.”
Orai sem cessar: “Os céus narram a glória de Deus,
o firmamento
anuncia a obra de suas mãos.” (Sl 19,1)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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