Não julgueis! (Lc 6,36-38)
Entendo que alguém possa estranhar
esta exortação de Jesus: “Não julgueis e não sereis julgados”. O olho atento há
de perceber a cláusula implícita: não julgueis e (em consequência)
não sereis julgados. Isto é, quem assume o papel de juiz não escapará à
condição de réu! Ao contrário, quem usa de misericórdia também encontrará
misericórdia.
De onde vem nossa estranheza? É que
nos ensinaram que devíamos ter “espírito crítico”. Em decorrência disso,
aprendemos a julgar a tudo e a todos, indiscriminadamente. E nos entregamos à
mais crua contabilidade: quem deve tem de pagar! E, ao fazê-lo, não percebemos
em nós mesmos os sintomas do desespero...
Sim, querer realizar – já – o
balanço de um mundo que ainda não está pronto, é mais que ansiedade: é
falta de esperança. Significa que, no fundo, não esperamos que as coisas mudem
para melhor. Não passa por nossa cabeça que ocorra algum milagre. Não cremos em
uma possível (mesmo que improvável) salvação.
Assim, para obedecer a Jesus Cristo
e não assumir implacavelmente a beca negra dos magistrados, nós precisamos
manter viva a esperança. É dela que eu falo em meu soneto “Noturno”:
Ergue teus olhos para os céus azuis,
Onde o sol agoniza no poente:
A claridade se desfaz, dormente,
Mas o amanhã trará de novo a luz...
Se teu jardim tem os canteiros nus
Depois da seca, no verão ardente,
Há de florir a rosa novamente
Para exalar o aroma que seduz...
Não te espantes se, agora, vence o mal
E a rosa se desfolha ao vendaval,
As pétalas caídas pelo chão...
Mesmo na noite, eleva a tua prece,
Pois a esperança sempre prevalece,
Moendo o trigo e amassando o pão!
Orai sem cessar: “Em vós, Senhor, eu espero
sempre!” (Sl
25,5)
Texto
e soneto de Antônio Carlos Santini, da Com. Católica Nova Aliança.
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