E todos vós sois irmãos... (Mt 23,1-12)
As divisões e hostilidades entre
aqueles que dizem seguir o mesmo Mestre constituem um escândalo para o mundo. Guerras
violentas entre nações cristãs, ásperos conflitos entre equipes de pastoral,
discórdias entre membros da mesma família – não importa a dimensão dos
adversários – acabam desmentindo a fé que proclamamos. Se um marciano pousasse
no planeta Terra, teria dificuldade em acreditar que somos membros da mesma
raça.
Um olhar neutro percebe que
estamos longe de viver como irmãos... Na Exortação Apostólica “Reconciliação
e Penitência” (1984), o Papa João Paulo II recordava os dolorosos fenômenos
sociais de nosso tempo:
-
direitos da pessoa humana espezinhados, em especial o direito à vida;
-
insídias e pressões contra a liberdade dos indivíduos e das coletividades;
-
discriminação racial, cultural, religiosa, etc.;
-
violência e terrorismo; tortura e repressão ilegítima;
-
acumulação de armas convencionais e atômicas;
-
distribuição iníqua dos recursos e bens da civilização;
-
progressivo distanciamento entre ricos e pobres.
No entanto, ao mesmo tempo,
experimenta-se uma profunda “nostalgia de reconciliação”. “O mesmo olhar
indagador – afirmava o Papa – se é suficientemente perspicaz, captará no seio
da divisão um desejo inconfundível, da parte dos homens de boa vontade e dos
verdadeiros cristãos, de recompor as fraturas, de cicatrizar as lacerações e de
instaurar, em todos os níveis, uma unidade essencial. Este desejo comporta, em
muitos casos, uma verdadeira nostalgia de reconciliação, mesmo quando não é
usada tal palavra.” (RP, 3.)
Desde a segunda metade do Séc.
XX, após o desastre e a agonia de duas guerras mundiais, inúmeras vozes se
ergueram para clamar pela reconciliação. Belíssimos gestos humanos foram dados
nesse sentido, ao estender as mãos sobre muralhas seculares de ódio e
antagonismo. Na passagem do milênio, o próprio João Paulo II encabeçou um
sentido processo de purificação da memória, ao pedir perdão, em nome de toda a
Igreja, por faltas cometidas no passado.
Encontros de lideranças internacionais,
visitas do Papa à sinagoga e ao Patriarca ortodoxo, suspensão mútua de
excomunhões – tudo sinaliza o mesmo anseio de unidade e paz. A paz se constrói
de gestos pequenos, diários. Seu ingrediente essencial é o perdão, que permite
reatar a amizade rompida e recomeçar um caminho de fraternidade.
Por onde começaríamos nós?
Orai sem cessar: “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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