Eu te segurei pela mão! (Is 42,1-7)
Quando a criança que engatinhava
começa a andar, os pais a seguram pela mão, dando-lhe apoio e firmeza para os
primeiros passos. E o pequenino prontamente estende a mão, confiante, pois se
sente amado e bem seguro. De um polo a outro, uma corrente de amor que
estabelece vínculos definitivos.
Esta passagem de Isaías - o
primeiro Cântico do Servo sofredor - pode ser lida como um retrato fiel da
relação entre o Pai e seu Filho: é bem este o motivo do afeto e do prazer do
Pai, que envia o Bem-amado a anunciar seu Amor aos homens. Declarações de amor
da mesma natureza seriam ouvidas igualmente no Batismo de Jesus e em sua
Transfiguração (cf. Mt 3,17; 17,1-8).
Mas também podemos ver nesta
passagem uma espécie de roteiro – em quatro etapas – de nossa experiência de
Deus. Ele nos chama, nos segura pela mão, nos forma e nos designa
para levar a luz aos povos. Desde o início, nota-se uma teleologia da parte de
Deus, que nos orienta para uma linha de chegada.
Tudo começa com um chamado:
a vocação, que pode ocorrer em qualquer fase da vida, mesmo na fase pré-natal
(cf. Jr 1,5). Nos primeiros tempos, verdadeira infância, nós somos guiados pela
mão, passo a passo, carinhosamente educados até que venha o tempo da maturidade
interior.
A seguir, passamos por um tempo
de formação, quando Deus nos revela a
verdade sobre si mesmo e sobre a humanidade que ele ama. Uma vez formados,
seremos enviados em missão,
destinados a uma tarefa junto ao povo. Em nosso tempo, há muitos cegos que
desejam ver, prisioneiros que anseiam pela liberdade, todo um mundo de trevas
que espera pela luz. Nossa vocação brota exatamente das necessidades daqueles
que sofrem e comovem o coração do Pai. É por eles que acolhemos a missão.
Nesta passagem, o profeta olha
para trás e percebe como seu caminho foi traçado por Deus. Sabe que sua
história pessoal é indissociável da história de seu povo e de sua família.
Também Jesus, no futuro, teria plena consciência de sua missão, mantendo-se
fiel a essa vocação diante de todos os obstáculos, abraçando a cruz como quem
acolhe plenamente a vontade do Pai.
Esta consciência do próprio
destino (como sinônimo de missão e vocação) é que dá sentido à nossa vida.
Chegar ao final da existência e reconhecer que recusamos nossa missão pode ser
o vestibular do inferno... Ao contrário, quem segue o chamado de Deus poderá
repetir as palavras de Jesus: “Não estou só, porque o Pai está comigo.” (Jo
16,32b) E esta experiência de amor não tem preço...
Orai sem cessar: “O Senhor me esconderá em sua tenda!” (Sl
27,5)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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