Desde o meu nascimento... (Is 49,1-6)
Os inspirados ícones orientais da
Natividade de Jesus Cristo – geralmente intitulados de “gennesis”, pois em Belém a História humana reparte do zero, com o
nascimento do Novo Adão -, retratam o recém-nascido envolvido em faixas, como
uma pequena múmia. E isto não é por acaso: a imagem escolhida pelos monges
iconógrafos tem uma intenção catequética, apontando para o destino da criança,
isto é, morrer e, envolvida em bandagens, ser afinal depositada no túmulo.
A contemplação aponta para uma
vida toda situada entre duas grutas: a de Belém e a do Santo Sepulcro. Por
absurdo que nos pareça, Jesus nasce para... morrer! Considerada sob este
ângulo, a morte de Jesus já não parecerá um acidente de percurso, um evento
ligado às circunstâncias históricas ou, pior ainda, ao abandono do Pai. Não por
acaso, o Símbolo dos Apóstolos assim resume a vida de Cristo: “nasceu...
padeceu... foi crucificado, morto e sepultado...”
Esta passagem de Isaías 49 fala
de um “chamado”, isto é, vocação e missão, cujas raízes estão situadas “no seio
de minha mãe”, ou seja, desde o primeiro instante. Imagem forte que nos ensina,
por um lado, que não existem vidas “por acaso”. Antes, sinaliza que cada pessoa
que vem a este mundo foi querida pessoalmente por Deus, independentemente das
circunstâncias de sua concepção.
Por outro lado, cada existência humana
corresponde a um chamado de Deus, isto é, uma intencional orientação do novo
ser para uma tarefa personalizada, típica, intransferível. Basta isto para
demonstrar a dignidade de cada pessoa humana, por mais frágil e deficiente que
ela nos pareça...
Alguém diria que isto desvaloriza
nossa história... Ou que parecemos marionetes nos cordéis de um demiurgo. Que
somos despojados de nossa liberdade. Nada disso! Nós permanecemos sempre livres
para dizer ‘não’. Somos livres para recusar o chamado de Deus e traçar nosso
próprio caminho, orientados por nossos instintos, pela propaganda do sistema ou
por sonhos de grandeza e poder.
Só que Jesus Cristo não fez
assim. Seu exemplo é bem outro. Consciente da missão que o Pai lhe confiara -
“desde o seio de minha Mãe” -, Jesus segue adiante, obediente e fiel. Graças à
sua obediência, nós fomos salvos das trevas do pecado. Vimos a luz brilhar em
nosso caminho.
Há muita gente, ainda hoje, que
vive nas trevas. Se recusamos nossa vocação, eles permanecerão nas trevas...
Orai sem cessar: “Em vós eu me apoiei desde que nasci!” (Sl
71,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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