Fez
um chicote... (Jo 2,13-25)
Onde está o “manso e humilde
coração”? (Mt 11,29) Onde está quem mandou guardar a espada na bainha? (cf. Mt
26,52) Pois é o mesmo Jesus de Nazaré que aparece agora de chicote em punho para
higienizar a Casa do Pai.
Existe, sim, uma cólera santa! Não
há gula santa, nem santa luxúria, mas existe um justo ciúme da santidade de
Deus: “O zelo por tua casa me devorou”. (Sl 69,10) E é movido por este zelo que
Jesus revela uma face até então velada em seu ministério.
Em nosso tempo, os mercadores também
invadiram todo espaço sagrado, seja ele o espaço da família, o corpo da mulher
ou o coração das crianças. Nada escapa à enxurrada dessacralizante das modernas
idolatrias. Em nome do lucro e do poder, Mammon e Zeus são erguidos nos
pedestais para a adoração incondicional da sociedade do capital e do consumo. E
não nos indignamos com isso...
Temos o direito e o dever de
manifestar nossa indignação. François Trévedy propõe que alimentemos constantemente
em nós “uma grande cólera possível, uma imensa fonte de insurreição. A
indignação, garantia do valor fiduciário do amor, faz parte integrante de nossa
existência cristã, porque a dignidade - dignitas
christiana [São Leão Magno] - faz parte integrante de nossa existência
cristã, porque a consciência da dignidade de Deus e de toda pessoa humana à sua
imagem faz parte de nossa existência cristã”.
Parece repetitivo? Pois é apenas o
óbvio. Perdemos nossa “dignidade” quando mergulhamos no esgoto neopagão e
consumimos todos os alimentos que ali nos oferecem: filmes pornográficos,
programas que exploram deformidades humanas, detalhes subumanos de crimes,
combates em que o sangue dos lutadores pelo tablado, mas também quando vendemos
qualquer ideal ou valor ético por causa do dinheiro. Mas a perdemos também
quando nos calamos diante de tudo isso...
“Se a in-dignação é legítima, é
porque existe uma dignidade – afirma Trévedy. Dignidade de Deus, dignidade do
homem, dignidade da Criação. E porque, restaurados em Cristo, nós temos
restaurado nossa dignidade, começaremos por nos indignar contra nós mesmos,
contra o pecado que a achincalha e que consiste essencialmente em nossa
mediocridade.”
Por que motivo a Liturgia da
Quaresma nos põe diante deste Evangelho? Seria para mostrar o contraste entre o
Carnaval dos pagãos e a Quarta-feira de Cinzas do cristão? Seria um apelo à
penitência por nossos pecados e – acima de tudo – por nossa morna indiferença
diante deles?
E pensar que pode haver um vômito à
nossa espera... (cf. Ap 3,16)
Orai sem cessar: “Arderá como fogo o teu zelo,
Senhor?” (Sl 79,5)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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